quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

FELIZES DIAS QUE ESPERÁVAMOS GODOT!


“Deus está morto, Marx também e eu não estou me sentindo muito bem”
Extraído do livro “O que é pós-moderno”



São muitas as metáforas que discorrem sobre a chamada pós-modernidade, e este pequeno texto descreveria apenas mais uma, caso ele não tratasse de uma “metáfora antagônica” da mesma.

Refiro-me a obra “Esperando Godot” do dramaturgo irlandês Samuel Beckett (conhecido por ser um dos principais autores do teatro do absurdo) e ter em seus textos uma visão exacerbadamente pessimista no que se refere ao fenômeno humano.

O texto foi escrito em 1952 e tem como conflito central a espera de Estragon e Vladimir, que assumem o papel do ser humano eternamente à espera de algo ou de alguém que satisfaça às suas aspirações e dê sentido ao absurdo que é a existência. Eles anseiam por Godot, que em momento algum é personificado com qualquer referência palpável do que poderia ser. Alguns crêem que Godot na verdade é Deus, acreditam outros que é o amor, uma entidade, um homem , um mulher, etc, etc.

O fato é que o próprio Beckett não faz questão alguma em revelar sua concepção do que poderia ser Godot, nos deixado assim, livres para escolhermos o que é nosso Godot individual, pode ser tudo o que você espera ou deseja esperar.

Até então tudo parece muito crível, mas a questão que levanto é: Esperamos alguma coisa nessa era pós-moderna? Sobre pós-modernidade (sim, nos acreditamos que ela exista), também conhecida como "hipermodernidade/ pos-tradicionalismo/ entre outros (esqueçamos aqui todas as críticas quando a real existência da mesma, o emprego do sufixo “pós” para algo que ainda não ocorreu, etc, etc...partiremos da idéia de que ela existe e pronto!) Deixemos aos acadêmicos essas discussões...o que queremos é estabelecer relações com a vida, buscando justificar – ainda que mal - a nossa existência.

Aí reside a metáfora às avessas entre Godot e a pós-modernidade. Godot ainda com seu pessimismo conseguia delinear um ser humano que tem esperanças, que acredita que algo ainda poderá acontecer e mudar o rumo da história. Já a pós-modernidade não espera absolutamente nada! Por quem é que esperamos nesses dias pós-modernos? Em quem acreditamos? O que escolhemos ser? Crianças radiosas ou andróides melancólicos? Nossos sonhos não ultrapassam a esfera individual de nosso egoísmo. Preocupados em dar vazão a nossa existência, optamos pelo caminho mais rápido, buscando prazeres cada vez mais instantâneos. Vivemos em uma esfera micro e fragmentada onde é perda de tempo se esperar por qualquer coisa.

Felizes dias que esperávamos Godot! Ainda que uma espera aparentemente infrutífera contribuía para que algum sentido tentasse ser criado. Esperar Godot (ainda não sabendo o que é) pode não nos dar grande alivio, mas não esperar por nada torna nossa vida ainda mais vazia.

Somos sujeitos atuantes da nossa história e não podemos nos isentar de esperar. De buscar um norte condutor para nossas vidas. Acredito que nossa verdadeira espera é esperar que algum sentido se construa e que nossa existência se torne palpável e compreensível. Acredito estar esperando demais!

Mas enquanto Godot não vem...

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

SER SI MESMO

"Quanto mais sou 'eu mesmo', mais vulnerável sou, mais aberto
estou para 'o que vier', estou menos 'feito', sou menos 'coisa' e sei
menos o que vai ser de mim. Na medida em que o sei, sou menos eu.
Por isso, a excessiva experiência de coisas costuma destruir ou não
deixar nascer a experiência da vida"
Julián Marías ( Antropologia Metafísica)