domingo, 13 de dezembro de 2009

Tu e Eu - Luis Fernando Veríssimo


Somos diferentes, tu e eu.
Tens forma e graça
e a sabedoria de só saber crescer
até dar pé.
Eu não sei onde quero chegar
e só sirvo para uma coisa
- que não sei qual é!
És de outra pipa
e eu de um cripto.
Tu, lipa
Eu, calipto.

Gostas de um som tempestade
roque lenha
muito heavy
Prefiro o barroco italiano
e dos alemães
o mais leve.
És vidrada no Lobão
eu sou mais albiônico.
Tu,fão.
Eu, fônico.

És suculenta
e selvagem
como uma fruta do trópico
Eu já sequei
e me resignei
como um socialista utópico.
Tu não tens nada de mim
eu não tenho nada teu.
Tu, piniquim.
Eu, ropeu.

Gostas daquelas festas
que começam mal e terminam pior.
Gosto de graves rituais
em que sou pertinente
e, ao mesmo tempo, o prior.
Tu és um corpo e eu um vulto,
és uma miss, eu um místico.
Tu, multo.
Eu, carístico.

És colorida,
um pouco aérea,
e só pensas em ti.
Sou meio cinzento,
algo rasteiro,
e só penso em Pi.
Somos cada um de um pano
uma sã e o outro insano.
Tu,cano.
Eu, clidiano.

Dizes na cara
o que te vem a cabeça
com coragem e ânimo.
Hesito entre duas palavras,
escolho uma terceira
e no fim digo o sinônimo.
Tu não temes o engano
enquanto eu cismo.
Tu, tano.
Eu, femismo.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

PRINCESINHA SUBURBANA

Hoje a princesinha suburbana está emputecida com a vida. Resolveu voltar a ser gatinha manhosa, depois que percebeu que ser gatinha comedida não dá certo e não faz sucesso na sociedade.

Hoje ela constatou que os gatos e o mundo cheiram mal. E não há como não contribuir com esse fedor. Fede-se junto também.

Hoje ela teve vontade de matar uma árvore e qualquer pseudo-ambientalista que ousasse impedir. Ela queria matar algo para que algo pudesse crescer dentro dela.

Hoje a nossa pequena princesinha sem luxo percebeu que dinheiro faz falta, e que a falta dele dá depressão. Que o mundo das utopias não existe mais (se é que existiu) e que a cada dia que passa os níveis da desigualdade social e intelectual só tendem a aumentar.

Hoje ela quer espalhar o lixo pelo chão, para deixar de ser princesa e assumir seu lado madrasta. Ela quer uma mudança de valores, para ver se algo de substancial muda em sua vida.

Hoje ela percebeu que não existem príncipes encantados, e os homens que se fazem passar por príncipes não trazem flores, trazem o veneno.

Ela bem que tentou ter fé na existência de um mundo real, mas a concretude da vida a fez desistir. Ela começou a criar planos imaginários, porque percebeu que viver é um saco pequeno. Ela entendeu que viver sem romantizar a vida com sexo, bebedeira, amores impossíveis e drogas ilícitas é impossível continuar neste mundo.

Mas ela precisa sobreviver, precisa acreditar que o sol vai nascer amanhã e tentará dar alguma ordem para o caos que é a existência. Mesmo sabendo que é impossível, a princesinha vai fingir que entendeu o recado, se iludir e continuar a ser infeliz para sempre.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

E se a supremacia fosse da razão?

Não é novidade a eterna luta do ser humano em permitir que coexistam dentro dele duas forças tão antagônicas como a razão e a emoção. Se a razão te mantém em equilíbrio, a emoção te desestabiliza, tendendo a lhe proporcionar prazeres incríveis e dores incomensuráveis.

No século XVIII, ou também conhecido como o “Século das Luzes”, uma de suas propostas era a racionalidade. A supremacia da razão foi exaltada ao seu limite máximo e o homem colocado como o centro do universo. Deus foi oficialmente destronado e a deusa “razão” colocada em seu lugar. Houve grande crença na perfeição do homem e na racionalização dos sentimentos. Os pensadores que defendiam estes ideais acreditavam que o pensamento racional deveria ser levado adiante substituindo as crenças religiosas e o misticismo, que, segundo eles, bloqueavam a evolução do homem.

Foi um momento de grande otimismo por parte dos homens que viveram na modernidade. Vislumbravam uma sociedade mais tolerante, mais pacífica, mais avançada cientificamente e intelectualmente, menos supersticiosa e habitada por homens livres na sua forma de viver e de pensar.

Passados alguns séculos, vejo que poucos homens evoluíram no quesito “razão”. O homem, ou pelo menos grande parte, continua agindo com a eterna irracionalidade das crianças. Será um erro pensar com a emoção e não com a razão? Não tenho dúvidas que a emoção impera majoritariamente, exercendo quase total soberania sobre a razão, mas o que proponho é questionar se hoje, no ano de 2009, a supremacia fosse apenas da razão? Estaríamos mais avançados? Mais humanos? Mais felizes?

Desconfio que não, sofreríamos menos, e seriamos menos felizes também. Não haveria em nossa vida paixões avassaladoras e nem conflitos existenciais. Se não teríamos momentos de felicidade absoluta, não teríamos dores desmedidas.

Alguém deseja viver sem sentir? Ninguém ambiciona ser um robô sem sentimento, nem um boneco de mamulengo manipulado pelas emoções. O que fazer então? Segundo o grande filósofo iluminista Denis Diderot, “a razão sem paixões seria quase um rei sem súditos”, acho que sua proposta era um equilíbrio racional entre ambas. Sonho? Ilusão? Talvez sim, talvez não. A razão e a emoção sempre andaram em direções opostas no pensamento humano, acho que a utopia é as duas se encontrarem.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

E SE EU FOSSE VAN GOGH?


Eu seria um homem de paixões!
Mais interessado em viver do que em sonhar.
Menos racional e mais intenso.
Mais aqui e menos lá.
Menos poético e mais prolixo.
Menos impressionante e mais expressionista.
Seria menos são e mais insano.

Eu levaria um NUNCA e insistiria para que ela mudasse de idéia.
Envolver-me-ia com prostitutas e as achariam as mulheres mais fascinantes do mundo.
Teria minha primeira relação bissexual com Toulouse Lautre, afinal, se ele já havia me apresentado os prazeres do absinto, por que não os prazeres da carne?
Eu beberia absinto todos os dias para ver fadas verdes mesmo tendo surtos e alucinações.

Não teria medo da falta de controle, já que do incontrolável saem nossas maiores criações.
Depois de uma discussão com meu melhor amigo eu sentiria remorso e daria minha orelha a minha prostituta preferida.

Eu amaria girassóis e sonharia com uma casa amarela.
Eu viveria em Paris, eu pintaria os cabarés, mas jamais me esqueceria da beleza da natureza.

Se eu fosse Van Gogh, talvez eu fosse mais feliz.



Natália Barud

terça-feira, 23 de junho de 2009

A ENFERMA

Hoje eu tive que escrever por uma necessidade quase vital. Essa história de estar de cama não é muito interessante, mas talvez seja a única maneira razoável para que eu me recupere dos efeitos da vida. Ando um pouco doente e sensível a tudo. Livros, filmes, fotos, cartas... tudo me comove, viver me comove.

As lagrimas saem sem que eu possa controlá-las, e no meio desse turbilhão de emoções a flor da pele, eu me deixo envolver... No meio de tanta intensidade e uma percepção mais visceral da vida eu tive tempo de refletir demasiadamente sobre muitas coisas que eu não vivi e algumas que vivi, embora as que eu não tenha vivido me incomodem bem mais. Parece que não, mas é bom saber o que nos toca, o que nos coloca em contato com o chão, ou a falta dele.

Essa minha fase “reflexiva” não é opcional, só me encontro refletindo demasiadamente porque estou debilitada e meu corpo não responde aos meus impulsos. Fico dividida entre a cama e o computador, mas o computador apenas de vez em quando, a cama sempre se faz mais atrativa.

Embora tente entender, odeio as limitações humanas. As dos outros nem tanto, mas as minhas tenho verdadeira repulsa. As psíquicas até consigo entender, mas as físicas...acho difícil não responder as minhas demandas. Como se isso dificilmente me acontecesse....já devia ter acostumado.

Sei que não é novidade para ninguém que o mundo não espera o seu tempo. Mas às vezes é necessário pedir que o tempo se resolva, porque você também se encontra no mundo, lutando contra ele... e nada mais junto que você vença de vez em quando.

Eu posso dizer que venci o tempo. Desmarquei compromissos morais e profissionais. Aceitei minha inércia, minha incapacidade de reagir... perdi o medo desse encontro comigo mesma, e acho que é necessário esse momento “intensidade”. Vou chorar tudo que eu puder, sofrer o que as lembranças permitirem e renascer como uma borboleta, pronta para voar e realizar todos os vôos que eu não ainda não fiz.

Natália Barud

domingo, 24 de maio de 2009

CONFISSÃO A REINHARDT

Não queria pedir mais do que você tinha, assim como eu não daria mais do que dispunha, por limitação humana. Mas o que tinha, era seu. "
Caio Fernando Abreu



Hoje eu me entristeci e precisei de você.
Eu quis te contar coisas imprescindíveis, falar do pouco cuidado dos seres humanos para com os seres humanos e talvez chorar um pouco.
Pensei em te ligar, mas por limitação humana, eu me resignei e não quis.
Mas percebi o quando preciso de você.
(Por Deus, não se sinta responsável por mim).
Não quero criar prisões, quero que você seja livre, por que te amo.
Isso tudo serviu para perceber o quando você tem feito parte da minha vida!
O quando tem participado e o quanto é especial a nossa relação.
Digo “relação” por que não quero castrá-la e estipular denominações.
Quero que ela flua como nossas vidas... mas quero que você permaneça nela.
Talvez pelo meu jeito de “homenzinho bem resolvido”, eu tenha me isentado de lhe dizer algumas coisas, mas hoje, vendo o quanto você é importante ,
já não posso ter esses bloqueios.
Queria que você soubesse que além de precisar de ti, eu tenho muito orgulho de você, dessa pessoa que você se transformou e de tudo que a gente viveu.
Junto ou separado.
Sinto saudades quando não te vejo, sinto um aperto quando você desce do ônibus, e um aperto maior ainda quando você não entra nele.
Você já faz parte da minha vida e de tudo que nela couber.
Faz parte de mim e do meu ser.
Simplesmente te amo.
(23 de maio de 2009, ás 19:26)
Natália Barud

terça-feira, 12 de maio de 2009

CADÊ O MEU HERÓI?


“Triste o país que precisa de heróis” Bertold Brecht


É crise! Uma crise generalizada de sentido, de todos os sentidos. Momentos difíceis em que estão expostos nossos medos, desilusões, sonhos e principalmente as nossas frustrações.

Em tempo de crise e de poucas perspectivas risonhas é preciso buscar no que se apegar. Alguns buscam a religião, outros o sexo, os tóxicos, o consumismo, enfim, sempre há meios de tentar burlar essa depressão que nos assola.

Ando desiludida de tudo e de todos. Os itens acima não preenchem o vazio da minha existência e em meio a esse conflito real/existencial eu me coloco a perguntar:

Cadê o meu herói?

Acho que ele não vem. Vejo-me como a mocinha inocente no alto da torre a espera de um herói. A única diferença é que ele não vem. Faço uma cara de incrédula misturada com uma cara de quem sabia que isso poderia acontecer, mas que não acreditava que fosse verdade. Penso até em pular da torre, mas decido seguir em frente, apenas com uma ilusão a menos.

Por um minuto havia me esquecido que não existem heróis. Pensei talvez, que Batman, Wolverine (ele estava no Brasil semana passada) ou Superman pudessem aparecer.

Mas analisando bem, achei de bom grado que eles não tenham vindo. Embora seja mais cômodo esperar pelo herói é mais humano assumir suas responsabilidades e se fazer herói de sua própria existência. (Não que eu acredite que isso seja possível).

Outra dica: nem tenha ilusões de salvar o mundo, como fazem os heróis que não existem. Grande contribuição você dará ao mundo se conseguir salvar a você mesmo. Mas não pense que eu recrimino as ilusões. Pelo contrário! O fato de criar ilusões faz da vida um pouco menos mortal.

Cadê o meu herói?

Ele não vem, mas ninguém morrera por isso, ou pelo menos não deveria. Arrumaremos um bom psicanalista e tudo estará resolvido. È fato que a crise só começou, é fato que ainda vai durar, mas é fato que daqui a alguns dias vai passar...e logo viram outros problemas querendo soluções.
Natália Barud

quinta-feira, 9 de abril de 2009

UMA VIDA NORMAL


Hoje não tenho do que me queixar.
De tempos para cá não sei o que é choro, conflito ou drama.
Não me pergunte se é bom, se estou feliz, se era tudo que sempre sonhei....
Eu não sei responder.
Mas sei que a vida anda sendo muito afetuosa comigo.
Ainda não me acostumei com essa história de “estabilidade emocional”.
É estranho não se envolver, não esperar por nada.
Mas nesse momento acredito ser o melhor a fazer.
Cansei de dar as cartas, de propor o jogo, de armar o circo.
E quando digo que cansei, eu quis dizer que cansei mesmo!
Não quero ser a protagonista das situações, nem ter minha alma sangrando por isso.
Quero ser apenas uma espectadora, como essa moça do Toulouse.
Vivi-se menos. Sofre-se menos.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

VAI PASSAR - CAIO FERNANDO ABREU

Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está ai, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada "impulso vital". Pois esse impulso às vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te surpreenderás pensando algo como "estou contente outra vez". Ou simplesmente "continuo", porque já não temos mais idade para, dramaticamente, usarmos palavras grandiloqüentes como "sempre" ou "nunca". Ninguém sabe como, mas aos poucos fomos aprendendo sobre a continuidade da vida, das pessoas e das coisas. Já não tentamos o suicídio nem cometemos gestos tresloucados. Alguns, sim - nós, não. Contidamente, continuamos. E substituímos expressões fatais como "não resistirei" por outras mais mansas, como "sei que vai passar". Esse o nosso jeito de continuar, o mais eficiente e também o mais cômodo, porque não implica em decisões, apenas em paciência. Claro que no começo não terás sono ou dormirás demais. Fumarás muito, também, e talvez até mesmo te permitas tomar alguns desses comprimidos para disfarçar a dor. Claro que no começo, pouco depois de acordar, olhando à tua volta a paisagem de todo dia, sentirás atravessada não sabes se na garganta ou no peito ou na mente - e não importa - essa coisa que chamarás com cuidado, de "uma ausência". E haverá momentos em que esse osso duro se transformará numa espécie de coroa de arame farpado sobre tua cabeça, em garras, ratoeira e tenazes no teu coração. Atravessarás o dia fazendo coisas como tirar a poeira de livros antigos e velhos discos, como se não houvesse nada mais importante a fazer. E caminharás devagar pela casa, molhando as plantas e abrindo janelas para que sopre esse vento que deve levar embora memórias e cansaços. Contarás nos dedos os dias que faltam para que termine o ano, não são muitos, pensarás com alívio. E morbidamente talvez enumeres todas as vezes que a loucura, a morte, a fome, a doença, a violência e o desespero roçaram teus ombros e os de teus amigos. Serão tantas que desistirás de contar. Então fingirás - aplicadamente, fingirás acreditar que no próximo ano tudo será diferente, que as coisas sempre se renovam. Embora saibas que há perdas realmente irreparáveis e que um braço amputado jamais se reconstituirá sozinho. Achando graça, pensarás com inveja na lagartixa, regenerando sua própria cauda cortada. Mas no espelho cru, os teus olhos já não acham graça. Tão longe ficou o tempo, esse, e pensarás, no tempo, naquele, e sentirás uma vontade absurda de tomar atitudes como voltar para a casa de teus avós ou teus pais ou tomar um trem para um lugar desconhecido ou telefonar para um número qualquer (e contar, contar, contar) ou escrever uma carta tão desesperada que alguém se compadeça de ti e corra a te socorrer com chás e bolos, ajeitando as cobertas à tua volta e limpando o suor frio de tua testa. Já não é tempo de desesperos. Refreias quase seguro as vontades impossíveis. Depois repetes, muitas vezes, como quem masca, ruminas uma frase escrita faz algum tempo. Qualquer coisa assim:- ... mastiga a ameixa frouxa. Mastiga , mastiga, mastiga: inventa o gosto insípido na boca seca ...

Caio Fernando Abreu

domingo, 15 de março de 2009

A MINHOCA

Em uma movimentada Rua de Belo Horizonte, deparei-me com uma minhoca Isso mesmo! Uma minhoca! Já havia quase me esquecido que no mundo pós-moderno ainda existiam minhocas!

Ao invés de chamá-la de minhoca, seria mais gentil de minha parte tomá-la por minhoquinha. Tanto pelo seu tamanho (no máximo 2cm) , tanto por sua fragilidade e talvez pelo pequeno e instantâneo contado afetuoso que tivemos.

Devo dizer que a tomei como exemplo de vida e existência. Os transeuntes iam seguindo suas vidas, dando seus passos e nos momentos em que eles quase matavam minha amiga minhoca, ela esquivava-se ora para frente, ora para o lado, ora para trás, e ia vivendo assim, tentando viver em meio ao caos.

Minhoca danada! Ela queria viver. Mesmo que correndo riscos, mesmo que perto da morte, mesmo na sua pequenez diante do mundo. Cheguei quase a ter inveja de sua coragem.

No meio dessas reflexões, fui interceptada por uma dessas moças que vendem cartõezinhos de 1,50 e a perdi da minha vista. Quando já me preparava para o poço das lamentações existenciais de não se apegar, de ser responsável por aquilo que cativas e outras tantas costumeiramente repetidas por mim, eis que meu ônibus surge correndo e correndo me enfio dentro dele.

Posso até ter pisado na minhoca! Mas que diferença faz? Somos mestres do esquecimento, as coisas são importantes porque estão presentes, no momento que saem de nossa vista, saem de nossa vida e eu já não precisava mais dela para sobreviver.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

AS SURPRESAS DA VIDA...

A vida é uma caixa de surpresas, quase nunca boas, mas surpresas.

Nas primeiras você se assusta, mas pensa que estar na “corda bamba” te coloca em um lugar de conflito, te faz amadurecer. Preciso confidenciar que existe certo sadomasoquismo no desconhecido e você aceita de bom grado que a vida te desestabilize de vez em quando. Você até acha interessante e ainda consegue pensar na "fantásticidade" da vida, sempre se regenerando com uma lagartixa.

Em determinado momento, você se cansa. Acha que a vida faz da tua vida uma verdadeira sacanagem. Tira-te coisas importantes e não coloca nada em seu lugar. Frustra as suas expectativas sem o menor pudor. Tu choras, te desesperas, e com o passar do tempo assiste o triste final de não se iludir e não esperar mais nada.

-Faça de mim o que quiser. - Você a diz a ela.
Esse é o pior momento e o mais covarde, mas de certa parte, inevitável. A vida vai virando um fardo impossível de carregar e não te restam muitas alternativas.

Devo confessar que me entreguei, não quero mais surpresas. Quero alcançar um grau de linearidade absurdo, sem tristezas, nem felicidades. Talvez eu mude de idéia e volte a viver intensamente de novo. Não sei.

As coisas passam em nossa vida, mas não nos deixam intactos, levam um pouco do nosso ser. Tenho medo de chegar o dia em que não sobrará mais nada de mim.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

CONTRADIÇÕES

Se um dia eu voltar novamente a me olhar no espelho, eu quero ser outro ser.
Mais aberto, menos melancólico.
(Nem falo de felicidade, não tenho essas pretensões absurdas).
Não sei o que procuro, nem se procuro. Mas não estou satisfeita com o rumo da vida. Acho que ela nunca muda, ou muda tanto que não parece.
Não sei. Na verdade, nunca sei.

Acho que o mundo não alcança o meu desenvolvimento, ou eu não me desenvolvi o suficiente para entendê-lo, pode acontecer. Tudo é possível, tia Rafa.
Hoje eu vou sair e tirar a roupa. Mostrar-me aos outros para que eu possa me mostrar a mim mesma. Talvez eu me perca, talvez eu me encontre, mas é necessário correr riscos.

Eu quero uma transição.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

CAIO FERNANDO ABREU – SELEÇÃO DE FRASES E TRECHOS


“E tudo que eu andava fazendo e sendo eu não queria que ele visse nem soubesse, mas depois de pensar isso me deu um desgosto porque fui percebendo (...) que talvez eu não quisesse que ele soubesse que eu era eu, e eu era.”

“A única magia que existe é estarmos vivos e não entendermos nada disso. A única magia que existe é a nossa incompreensão.”

“Não, meu bem, não adianta bancar o distante: lá vem o amor nos dilacerar de novo...”

“Não, você não sabe, você não sabe como tentei me interessar pelo desinteressantíssimo.”

“Acho que sou bastante forte para sair de todas as situações em que entrei, embora tenha sido suficientemente fraco para entrar."

"Ando meio fatigado de procuras inúteis e sedes afetivas insaciáveis."

"É preciso estar distraído e não esperando absolutamente nada. Não há nada a ser esperado. Nem desesperado."

"Tô exausto de construir e demolir fantasias. Não quero me encantar com ninguém."
"Quem diria que viver ia dar nisso?"

"Natural é as pessoas se encontrarem e se perderem".

"É dificil aprisionar os que tem asas"

'Acontece porém que não tinham preparo algum para dar nome às emoções, nem mesmo para entendê-las.'

"...depois de todas as tempestades e naufrágios o que fica de mim e em mim é cada vez mais essencial e verdadeiro"

"Olha, eu sei que o barco tá furado e sei que você também sabe, mas queria te dizer pra não parar de remar, porque te ver remando me dá vontade de não querer parar de remar também."

"Tudo isso me perturbava porque eu pensara até então que, de certa forma, toda minha evolução conduzira lentamente a uma espécie de não-precisar-de-ninguém. Até então aceitara todas as ausências e dizia muitas vezes para os outros que me sentia um pouco como um álbum de retratos. Carregava centenas de fotografias amarelecidas em páginas que folheava detidamente durante a insônia e dentro dos ônibus olhando pelas janelas e nos elevadores de edifícios altos e em todos os lugares onde de repente ficava sozinho comigo mesmo. Virava as páginas lentamente, há muito tempo antes, e não me surpreendia nem me atemorizava pensar que muito tempo depois estaria da mesma forma de mãos dadas com um outro eu amortecido — da mesma forma — revendo antigas fotografias. Mas o que me doía, agora, era um passado próximo. "

"Os homens precisam da ilusão do amor da mesma forma que precisam da ilusão de Deus. Da ilusão do amor para não afundarem no poço horrível da solidão absoluta; da ilusão de Deus, para não se perderem no caos da desordem sem nexo."

“Porque eu também sinto medo, e haverá a morte um dia. A vida é apenas uma ponte entre dois nadas e tenho pressa.”

"E que uma palavra ou um gesto, seu ou meu, seria suficiente para modificar nossos roteiros."
A gente tem muito pudor de parecer ridículos, melosos, piegas, bregas, românticos, pueris banais.

“Não que estivesse triste, só não compreendia o que estava sentindo.”