terça-feira, 15 de setembro de 2009

PRINCESINHA SUBURBANA

Hoje a princesinha suburbana está emputecida com a vida. Resolveu voltar a ser gatinha manhosa, depois que percebeu que ser gatinha comedida não dá certo e não faz sucesso na sociedade.

Hoje ela constatou que os gatos e o mundo cheiram mal. E não há como não contribuir com esse fedor. Fede-se junto também.

Hoje ela teve vontade de matar uma árvore e qualquer pseudo-ambientalista que ousasse impedir. Ela queria matar algo para que algo pudesse crescer dentro dela.

Hoje a nossa pequena princesinha sem luxo percebeu que dinheiro faz falta, e que a falta dele dá depressão. Que o mundo das utopias não existe mais (se é que existiu) e que a cada dia que passa os níveis da desigualdade social e intelectual só tendem a aumentar.

Hoje ela quer espalhar o lixo pelo chão, para deixar de ser princesa e assumir seu lado madrasta. Ela quer uma mudança de valores, para ver se algo de substancial muda em sua vida.

Hoje ela percebeu que não existem príncipes encantados, e os homens que se fazem passar por príncipes não trazem flores, trazem o veneno.

Ela bem que tentou ter fé na existência de um mundo real, mas a concretude da vida a fez desistir. Ela começou a criar planos imaginários, porque percebeu que viver é um saco pequeno. Ela entendeu que viver sem romantizar a vida com sexo, bebedeira, amores impossíveis e drogas ilícitas é impossível continuar neste mundo.

Mas ela precisa sobreviver, precisa acreditar que o sol vai nascer amanhã e tentará dar alguma ordem para o caos que é a existência. Mesmo sabendo que é impossível, a princesinha vai fingir que entendeu o recado, se iludir e continuar a ser infeliz para sempre.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

E se a supremacia fosse da razão?

Não é novidade a eterna luta do ser humano em permitir que coexistam dentro dele duas forças tão antagônicas como a razão e a emoção. Se a razão te mantém em equilíbrio, a emoção te desestabiliza, tendendo a lhe proporcionar prazeres incríveis e dores incomensuráveis.

No século XVIII, ou também conhecido como o “Século das Luzes”, uma de suas propostas era a racionalidade. A supremacia da razão foi exaltada ao seu limite máximo e o homem colocado como o centro do universo. Deus foi oficialmente destronado e a deusa “razão” colocada em seu lugar. Houve grande crença na perfeição do homem e na racionalização dos sentimentos. Os pensadores que defendiam estes ideais acreditavam que o pensamento racional deveria ser levado adiante substituindo as crenças religiosas e o misticismo, que, segundo eles, bloqueavam a evolução do homem.

Foi um momento de grande otimismo por parte dos homens que viveram na modernidade. Vislumbravam uma sociedade mais tolerante, mais pacífica, mais avançada cientificamente e intelectualmente, menos supersticiosa e habitada por homens livres na sua forma de viver e de pensar.

Passados alguns séculos, vejo que poucos homens evoluíram no quesito “razão”. O homem, ou pelo menos grande parte, continua agindo com a eterna irracionalidade das crianças. Será um erro pensar com a emoção e não com a razão? Não tenho dúvidas que a emoção impera majoritariamente, exercendo quase total soberania sobre a razão, mas o que proponho é questionar se hoje, no ano de 2009, a supremacia fosse apenas da razão? Estaríamos mais avançados? Mais humanos? Mais felizes?

Desconfio que não, sofreríamos menos, e seriamos menos felizes também. Não haveria em nossa vida paixões avassaladoras e nem conflitos existenciais. Se não teríamos momentos de felicidade absoluta, não teríamos dores desmedidas.

Alguém deseja viver sem sentir? Ninguém ambiciona ser um robô sem sentimento, nem um boneco de mamulengo manipulado pelas emoções. O que fazer então? Segundo o grande filósofo iluminista Denis Diderot, “a razão sem paixões seria quase um rei sem súditos”, acho que sua proposta era um equilíbrio racional entre ambas. Sonho? Ilusão? Talvez sim, talvez não. A razão e a emoção sempre andaram em direções opostas no pensamento humano, acho que a utopia é as duas se encontrarem.