sábado, 29 de março de 2008

Carta escrita por ARTAUD

Levei bastante gente, homens e mulheres. Para ver aquela tela maravilhosa, mas foi a primeira vez que eu vi uma emoção artística tocar um ser e fazê-la palpitar com amor. Os seus sentidos estremeceram e eu dei conta de em que você o corpo e o espírito estão formidavelmente ligados, a ponto de uma pura impressão espiritual fazer detonar em seu organismo uma tormenta tão poderosa. Mas nesse casamento insólito é o espírito que predomina sobre o corpo e que terminará por dominar tudo. Sinto em você um mundo de coisas que pedem para nascer se encontrarem , o exorcista adequado.Você própria não tem plena consciência mas você invoca essas coisas com todo seu espírito e sobretudo os seus sentidos , seus sentidos de mulher que, em você, são também os sentidos do espírito .Sendo o que você é devia compreender a grande alegria dolorosa e mesmo a estupefação que experimento por tê-la encontrado assim: de um único golpe vejo... hermeticamente preenchida a minha solidão sentimental infinita, e preenchida de uma maneira que me perturba, o destino me trouxe desesperar de possuir; e como tudo o que o destino traz, tudo o que é inelutável e resolvido pelos céus. Isso me vem contra todos, sem nenhuma hesitação, espontaneamente, de repente, sem medo, lindo de meter medo! Posso acreditar que os mistérios são coisas deste mundo, pois eu e você somos deste mundo, nosso encontro é perfeito demais e me deixa estupefacto por uma espécie de dor. Além disso, há o fato de que meu espírito, minha vida é uma série de iluminações de eclipses e esses eclipses que acontecem em mim, acontecem também em torno de mim, em tudo aquilo que eu toco e não quero ser para quem se aproxima de mim, uma decepção. Você já teve ocasião de ver: em certos pontos tenho intuições, revelações fulgurantes e em outras não sou mais que trevas e idiotices, as coisas mais simples me escapam e torna-se preciso uma compreensão de rara sutileza para admitir, para aceitar essa mistura, uma vez que essas trevas afetam os sentimentos que tosos têm o direito de esperar de mim. Muitas coisas nos aproximam terrivelmente, mas, sobretudo uma delas: nosso silêncio.Você tem um silêncio veemente onde se pode dizer que se sente passar as essências, eu o sinto estranhamente vivo. Como um alçapão aberto sobre o abismo, onde se pode sentir o murmúrio silencioso e secreto da terra. Não há nada de poesia inútil e fabricada em tudo isto que te digo você bem sabe disso. Quero traduzir expressões fortes, impressões reais que tive a respeito de coisas que não se fala habitualmente. Na plataforma da estação, quando eu te disse: somos como duas almas perdidas nos espaços infinitos, senti passar o silêncio móvel que me faltava e que teria sido capaz de me fazer sangrar de alegria. Você me põe face a face comigo e eu sinto que posso não me envergonhar, quero você de abraços violentos, quero entrar em você, repousar em você e que sintamos juntos aquela vibração plena, você e eu aquela vibração que faz brotar à luz do dia as coisas do espírito. Só com você pode um abraço não se inútil, colocando em contato magnetismos contrários e que, aliando-se, a estabeleceria um ciclo perfeito. Já que você habita o mesmo domínio, podia muito bem me dar o que me falta, ser meu complemento. Se nossos espíritos amam as mesmas imagens, desejam as mesmas formas, as mesmas aparições fisicamente, organicamente, você é o calor enquanto eu sou o frio, a coisa ondulante, macia, voluptuosa, acariciante, enquanto eu sou o duro sílex, a vegetação calcinada e fóssil, a obsidiana, o duro mineral. Uma necessidade violenta e que é maior que você e eu, empurrou você pra mim, você compreendeu isso imediatamente, você percebeu as formidáveis semelhanças e o bem que poderia me fazer e que está destinada a me fazer mas como eu por momentos, fico cego, tenho medo que o destino a deixe cega também, que você perca bruscamente o contato com todas as descobertas, com essa vida que me deve maravilhar , tenho medo, pra dizer tudo, que o teu corpo, de repente ,a domine e que você não me reconheça mais o que, então, num desses períodos em que eu a perca inteiramente.alguma coisa de maravilhoso acaba de começar e isso pode preencher toda a vida, e lhe digo isso com toda a sinceridade de minha alma, toda a serenidade e toda a gravidade de que sou capaz, depois de oito dias. Amanhã fará oito dias que senti minha vida radicalmente transformada e ontem foi a consagração material dessa transformação radical. Me escreva, me escreva uma carta humana, completa, dizendo qual o preço que você cobra pela nossa união e as razões que te levam a dizer que você desconfia de mim em certo plano. Quando te peço que me explicite o preço de nossa união quero é leva-la a fazer brotar diante mim imagens em que se sinta a nossa própria vida.Desde ontem sinto o gosto de uma boca de mulher que me persegue, mas como uma idéia , como uma essência.Esse gosto não é coisa de corpo, ele me desnuda o sentido mesmo de uma alma, ele me ensina muitas coisas sobre toda uma vi9da secreta que sem ele eu nunca conheceria.Tenho nome que minha mãe me deu quando eu tinha quatro anos e que meus íntimos usam comigo: Nanaqui.Ele me descreve na minha inocência e no mais puro de minha vida.

Nanaqui.



Cartas a anais Nin – junho de 1933

quinta-feira, 27 de março de 2008

ALGUMAS IMPRESSÕES

Pouquíssimas coisas me incomodam de verdade...
Eu estou bem, muito bem...não gosto de sofrer...mas acho muito prazeroso essa história de dor e prazer...e por incrível que pareça os meus conflitos são relacionados com coisas que gosto muito ou quero muito...

Um conflito tem me afligido muito...é uma bobagem, mas para mim é serio...eu controlo boa parte das minhas emoções, acho que não preciso de ninguém, acredito que boa parte dos meus conflitos começam e terminam em mim, sou egoísta -- e acredito que tudo isso me afasta da vida...

Sempre tenho a sensação que não me exponho muito em nada...sempre contida e com controle da situação...Isso pode parecer algo bem interessante, mas não é...acho que no fim todas as minhas relações vão ficando técnicas e burocráticas...

É difícil falar de coisas que não acreditamos....ainda tem um agravante...nunca me apaixonei e tem horas que acho o "amor" uma bobagem...e os conflitos só pioram porque qualquer um se apaixona...começo a pensar que sou uma fria e incapaz de querer muito a um ser que não eu mesma...

Acho fascinante as pessoas sofrerem de amor...Acho de uma beleza, uma nobreza tão grande...acabei de descobrir uma coisa: "sofro por não sofrer"...

Eu deveria aprender a me permitir....

O Barudianismo

Pensamento é desejo: e o barudianismo nasce do desejo de expor seus inúmeros pensamentos. Através de suas idéias, idéias de outros, rascunhos, copias, resumos, resenhas, tudo e qualquer coisa que represente o nada ou coisa alguma que represente o todo ou nenhum dos itens anteriores.