quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

FELIZES DIAS QUE ESPERÁVAMOS GODOT!


“Deus está morto, Marx também e eu não estou me sentindo muito bem”
Extraído do livro “O que é pós-moderno”



São muitas as metáforas que discorrem sobre a chamada pós-modernidade, e este pequeno texto descreveria apenas mais uma, caso ele não tratasse de uma “metáfora antagônica” da mesma.

Refiro-me a obra “Esperando Godot” do dramaturgo irlandês Samuel Beckett (conhecido por ser um dos principais autores do teatro do absurdo) e ter em seus textos uma visão exacerbadamente pessimista no que se refere ao fenômeno humano.

O texto foi escrito em 1952 e tem como conflito central a espera de Estragon e Vladimir, que assumem o papel do ser humano eternamente à espera de algo ou de alguém que satisfaça às suas aspirações e dê sentido ao absurdo que é a existência. Eles anseiam por Godot, que em momento algum é personificado com qualquer referência palpável do que poderia ser. Alguns crêem que Godot na verdade é Deus, acreditam outros que é o amor, uma entidade, um homem , um mulher, etc, etc.

O fato é que o próprio Beckett não faz questão alguma em revelar sua concepção do que poderia ser Godot, nos deixado assim, livres para escolhermos o que é nosso Godot individual, pode ser tudo o que você espera ou deseja esperar.

Até então tudo parece muito crível, mas a questão que levanto é: Esperamos alguma coisa nessa era pós-moderna? Sobre pós-modernidade (sim, nos acreditamos que ela exista), também conhecida como "hipermodernidade/ pos-tradicionalismo/ entre outros (esqueçamos aqui todas as críticas quando a real existência da mesma, o emprego do sufixo “pós” para algo que ainda não ocorreu, etc, etc...partiremos da idéia de que ela existe e pronto!) Deixemos aos acadêmicos essas discussões...o que queremos é estabelecer relações com a vida, buscando justificar – ainda que mal - a nossa existência.

Aí reside a metáfora às avessas entre Godot e a pós-modernidade. Godot ainda com seu pessimismo conseguia delinear um ser humano que tem esperanças, que acredita que algo ainda poderá acontecer e mudar o rumo da história. Já a pós-modernidade não espera absolutamente nada! Por quem é que esperamos nesses dias pós-modernos? Em quem acreditamos? O que escolhemos ser? Crianças radiosas ou andróides melancólicos? Nossos sonhos não ultrapassam a esfera individual de nosso egoísmo. Preocupados em dar vazão a nossa existência, optamos pelo caminho mais rápido, buscando prazeres cada vez mais instantâneos. Vivemos em uma esfera micro e fragmentada onde é perda de tempo se esperar por qualquer coisa.

Felizes dias que esperávamos Godot! Ainda que uma espera aparentemente infrutífera contribuía para que algum sentido tentasse ser criado. Esperar Godot (ainda não sabendo o que é) pode não nos dar grande alivio, mas não esperar por nada torna nossa vida ainda mais vazia.

Somos sujeitos atuantes da nossa história e não podemos nos isentar de esperar. De buscar um norte condutor para nossas vidas. Acredito que nossa verdadeira espera é esperar que algum sentido se construa e que nossa existência se torne palpável e compreensível. Acredito estar esperando demais!

Mas enquanto Godot não vem...

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

SER SI MESMO

"Quanto mais sou 'eu mesmo', mais vulnerável sou, mais aberto
estou para 'o que vier', estou menos 'feito', sou menos 'coisa' e sei
menos o que vai ser de mim. Na medida em que o sei, sou menos eu.
Por isso, a excessiva experiência de coisas costuma destruir ou não
deixar nascer a experiência da vida"
Julián Marías ( Antropologia Metafísica)

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

OS HOMENS MORREM E NÃO SÃO FELIZES...

Iluminado foi Albert Camus ao pronunciar tão sabias palavras, “Os homens morrem e não são felizes”, com essa constatação-afirmação, faz-se um esboço claro do que é o nosso destino.
Morremos, não somos felizes, e como complemento de nossa tragédia, morremos mal, porque percebemos o quão frustrante a tentativa.
Não seremos felizes, e nem poderíamos.... temos tendência ao sofrimento, porque é a forma de reafirmação de nossa existência.
No momento que sofremos, sabemos que existimos...
Já nos momentos de felicidade (raros, muito raros) ou também conhecido como um intervalo no meio do nosso tédio existencial, não se está presente por completo.
Apenas a dor nos coloca face a face com nossos conflitos, a felicidade nos distrai, nos ludibria e passamos o restante da vida na busca por esses momentos tão sublimes.
Não me entristeço com a idéia de saber que morreremos e não seremos felizes, triste é ter consciência desse fato, saber que é um jogo sem chance de vitória, e ainda assim morrerei com esperanças de encontrar a felicidade.
Porque não nos envergonhamos de ser patéticos?

Natália Barud

sábado, 15 de novembro de 2008

CANSADA DE EXISTIR

Hoje eu não quero fazer nada comigo, pensei em morrer. Mas só por uns dias. Depois retornaria como se nada tivesse acorrido. Infelizmente não é possível: ou vive-se ou morre-se. È uma questão de escolha. (Sempre uma questão de escolha).
O mundo reforça diariamente a nossa liberdade de escolha, meu corte de cabelo, minha jaqueta bordada, minha maquiagem não feita, meu amor inexistente e por último a não vontade de viver.
E por que não viver? Mesmo com tudo e apesar de tudo é uma experiência surpreendente. A própria negação da existência é sinal de mutação, de eterna provocação de você para você mesmo.
Porque então nos cansamos de existir se nos parece tudo tão fascinante?
Porque queremos demais e tudo que se quer em demasia trás dor, sofrimento, decepção, ódio e uma quantidade enorme de desejo de continuar e ver até onde suportamos...
Preciso me contradizer, nem todo o nosso existir é uma escolha. Vive-se e continuasse vivendo por desejo, não por escolha. Há desejos que ultrapassam a nossa própria liberdade de escolha, não se escolhe, se deseja.
Digo isso com certo sofrimento e certo prazer...eu sempre quis ser livre, mas sempre quis ter ilusões.

Natália Barud

sábado, 1 de novembro de 2008

FRASES BARUDIANISMO

Seguindo a proposta de expor os pensamentos e difundi-los com os indivíduos, selecionei algumas frases que ilustram uma “pseudo-essência” do que seria a representação da minha vida e conseqüentemente a representação do que seria o Barudianismo.


“Todas as coisas fluem” Heráclito

“Sempre estamos mais ou menos cegos, sobretudo, para o fundamental".
José Saramago

"Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome". Clarice Lispector

"O futuro pertence àqueles que acreditam na beleza de seus sonhos" E. Roosevelt

“Resisto a tudo, menos às tentações.” Oscar Wilde

"Rir de tudo é coisa dos tontos, mas não rir de nada é coisa dos estúpidos." E. de Rotterdam

"Não há fatos eternos, como não há verdades absolutas." Nietszche

"É mais fácil ser amante do que marido, pois é mais fácil dizer coisas bonitas de vez em quando do que ser espirituoso dias e anos a fio. Honoré de Balzac

Sabe o que é melhor que ser bandalho ou galinha? Amar. O amor é a verdadeira sacanagem." Tom Jobim

“A religião é comparável com uma neurose da infância”
Freud

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

ISSO É MUITA SABEDORIA

Quando fazemos tudo para que nos amem e não conseguimos, resta-nos um último recurso: não fazer mais nada. Por isso, digo, quando não obtivermos o amor, o afeto ou a ternura que havíamos solicitado, melhor será desistirmos e procurar mais adiante os sentimentos que nos negaram. Não fazer esforços inúteis, pois o amor nasce, ou não, espontaneamente, mas nunca por força de imposição. Às vezes, é inútil esforçar-se demais, nada se consegue;outras vezes, nada damos e o amor se rende aos nossos pés. Os sentimentos são sempre uma surpresa. Nunca foram uma caridade mendigada, uma compaixão ou um favor concedido. Quase sempre amamos a quem nos ama mal, e desprezamos quem melhor nos quer. Assim, repito, quando tivermos feito tudo para conseguir um amor, e falhado, resta-nos um só caminho...o de mais nada fazer.

Clarice Lispector

terça-feira, 2 de setembro de 2008

MANIFESTO BARUDIANISTA

"Só o Barudianismo nos une. Sexualmente. Artísticamente. Intelectualmente. E, acoplando os itens anteriores, e todos os demais da vida, a pós-modernidade.

Nós defendemos a revolução. Não a revolução de Sandino, nem a de Guevara, Fidel e Camilo. Não queremos o rigor de 1964, nem tão pouco a frouxidão de Gandhi. Esses buscavam mudanças pelo coletivo. Queremos uma transformação individual, através da auto-permissão.

O Barudianismo surge da necessidade de acabar com os modelos. Com toda a estrutura armada para privar o instinto de liberdade, o potencial criativo, do ser humano.

Queremos um homo sapiens sapiens livre. Afastado de toda a moralidade hoje imposta pela mídia, religião e política.

Fluir, or not fluir, that is the question.

Mas, ainda seguindo o ideal da revolução livre, abominamos qualquer tipo de imposição. Os barudianistas são livres até mesmo para questionar o próprio Barudianismo. A única cobrança é a do livre arbítrio, com bom senso. Da não alienação por nenhuma instituição ou sentimento.

Sendo assim podemos negar (e muitas vezes negamos!) o amor. Esse sentimento, quando não dominado, acaba cegando e privando a possibilidade de crescimento, em todos os sentidos, do vitimado.

O equívoco de interpretar nossa indiferença como egoísmo é comum. Mas não cofunda a grande obra do mestre Picasso, com a grande pica do mestre de obra. Nossa preocupação com o individual faz um sentindo enorme nesse ambiente fragmentado em que vivemos.

Fluir, or not fluir, that is the question.

Não nos interessa nada que é exato. Não exigimos precisão. Queremos a dúvida, o pensamento. Sabemos que toda a obra, ainda que imprecisa, carrega em si um grande valor afetivo, e pode ser o feto de uma nova revolução.

Intelectualidade. Liberdade. Libertinagem. Pensamento. Pós-modernidade. Egoísmo. Indiferença. Utopia. Etc, Etc, et e al.

Aos que nos chamam de utópicos, durmam com a realidade. E ela não é feliz para quem ainda não percebeu que ninguém nunca vai viver sem sonhos. Pois até mesmo a proposta de acabar com as utopias é uma utópia.

Fluir, or not fluir, that is the question.

Contra todos aqueles que se privam da vida, e na defesa dos que buscam a felicidade independente do que tenham no bolso, ou de quem esteja ao lado. O Barudianismo é o caminho dos que querem a liberdade!"

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Barudiana
Trovador Pós-Moderno
Silisil

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

NÓS FAZEMOS TEATRO

"Contra a ignorância, o terror, a falta de educação, a propaganda de promessas, o conforto moral, a ordem acima do progresso, a fome, a falta de dentes, a falta de amores, o obscurantismo... nós fazemos teatro.

Fazemos teatro pra dar sentido às potencialidades, pra ocupar o tempo, pra desatolar o coração, pra provocar instintos, pra fertilizar razões, por uns trocados, por uma boa bisca, porque é fundamental e porque é inútil. Pra subir na vida, pra cair de quatro, pra se enganar e se conhecer... contra a experiência insatisfatória; contra a natureza, se for o caso, nós fazemos teatro.

Fazemos teatro pra não nos tornarmos ainda pior do que somos. Pra julgar publicamente os grandes massacres do espírito. Pra viabilizar a esperança humana, essa serpente...Nós fazemos teatro de manhã, de tarde e de noite. Nós somos uma convivência de emoções, 24 horas distribuindo máscaras e raízes.

Nós fazemos teatro de tudo, o tempo todo, porque acreditamos que a vida pode ser tão expressiva quanto a obra e que devemos ter a chance de concebê-la e forni-la artisticamente. Porque estamos acordados. Porque sonhamos os nossos pesadelos.

Nós fazemos teatro apesar daqueles que, por um motivo que só pode ser estúpido, estejam "contra" o teatro. Aliás, o que pode ser "contra" algo tão "a favor"? Nós fazemos teatro contra a mediocrização do pensamento; a desigualdade entre os iguais e a igualdade dos diferentes.

Nós fazemos teatro contra os privilégios dos assassinos de gravata, batina, jaqueta, toga, minissaia, vestido longo, farda, camiseta regata ou avental. Contra a uniformidade, nós fazemos teatro.Nós fazemos teatro contra o mau teatro que querem fazer da realidade.Nós fazemos teatro pra explicarmo-nos - ainda que mal - e ao mal de todos nós dar algum destino menos infeliz.

Nós fazemos teatro pra morrer de rir e pra morrer melhor. Pra entender o inestimável, se esfregar no infalível, resvalar na nobreza, experimentar as mais sórdidas baixezas, pra brincar de Deus...

Nós fazemos teatro, comendo o pão que os Diabos amassam, os pratos feitos que as produções financiam e os jantares que as permutas permitem.Nós temos fome da fome do teatro. Porque onde houve e há teatro, houve e há civilização.Fazemos teatro sim, tem gente que não faz e está morrendo, essa é que é a verdade."

Fernando Bonassi

domingo, 6 de julho de 2008

REFLEXÕES SOBRE OS COSMOS VAZIÁTICOS

Por algum motivo que não sei, eu hoje estou me sentindo sozinha.
Não é uma solidão dessas que temos vontade de morrer...nada disso. È daquelas que você tem o mundo aos seus pés, pessoas preciosas que gostam de você, e você não sabe o que fazer com elas...mas sabe que não há ser humano que preencha o que está faltando...
Na verdade ninguém sabe o que falta, nossos vazios são tão íntimos que nem nos mesmos ousamos os adrentar. Só sentimos a dor, a falta, pode ser do que já passou, do quem nem aconteceu, do que nunca vai acontecer, dos sonhos que você teve, nos que você não teve, dos que teve e não realizou, dos que realizou e depois forjou que era seu grande sonho...enfim, falta pode ser por excesso ou por ausência.
Na verdade eu nem sei se eu estou falando de amor, acho que não...mas compreendo que a falta não é de amor...é falta de sentir mais, de amar mais....de me envolver sem distanciamento da vida, sem atuar como uma mera espectadora.
Por mais que eu negue, por mais que eu tente ignorar, as coisas me atingem e vão atingir sempre, eu sou um ser humano que sente, mas que não aceita isso...Sempre o maldito ego!È a nossa necessidade de estar sempre bem, de mostrar para os outros que está bem, e no fim acabar se convencendo disso...
Mas voltando a solidão do dia de hoje...acho que a tristeza vem é de saber que indiferente do que aconteça, tudo vai passar....e a questão é como lidar com isso.
Eu ainda não descobri...tenho dificuldades de aceitar que as pessoas vão passar pela minha vida e mais ainda de que elas vão permanecer...tenho fugido tanto das permanências, quando das efemeridades.
Acho que tenho fugido da vida...

terça-feira, 17 de junho de 2008

SALMO 91 - UM RESGATE AO TEATRO ENGAJADO

Salmo 91
Adaptação do romance Estação Carandiru, de Drauzio Varella, o espetáculo enfoca personagens como Dadá, Nego-Preto, Charuto, Zizi Marli, o Bolacha, o Veio Valdo, Edelso, o Zé da Casa Verde e suas duas mulheres, e Veronique. Todos estão sujeitos às normas de controle de comportamento vigentes na casa de detenção e a um rígido código penal não escrito, criado pela própria população carcerária. Em dez monólogos, a peça mostra crônicas fascinantes sobre formas de viver e morrer frente à violência, ao descaso ou ao confinamento. (FIT-BH)



O Salmo 91 resolveu um conflito que vinha me atormentando há algum tempo. Depois que a história entrou minha vida, me tornei uma"pseudo-socialista” e que em meu governo as pessoas necessitavam ter acesso apenas à moradia, comida, saúde, educação. O teatro não tinha muito espaço e passei a questionar o porquê do mesmo, visto que seu sentido estava se perdendo num mundo de tantas atrocidades.
Apesar de nunca ter deixado de acreditar no poder do teatro, eu começava de fato a questionar a sua real importância. Começou a não fazer sentido o teatro ser conhecido por seu caráter social e nada fazer para a transformação da sociedade contemporânea. Na busca por essas respostas e um pouco descrente de encontrá-las em dias pós-modernos e preenchidos de niilismo como os que vivemos, resgato a história e dou inicio a uma pesquisa sobre o espetáculo o "Liberdade liberdade" de 1965 (um espetáculo manifesto que possui fragmentos da literatura universal dedicados ao tema da liberdade, que tinha como objetivo apontar como a nossa liberdade começada a ser extirpada) e nessa pesquisa encontrei muito do “teatro” que buscava, um teatro exercendo papel político, engajado e envolvido não só com os problemas subjetivos, mas também com as problemas objetivos e "mundanos".
O teatro passava a denunciar, criticar e expor todos os dramas sociais do país, correndo riscos reais e levando as pessoas à reflexão. Fiquei extremamente encantada com esse período. Comecei a refletir se a ditadura não teve participação direta em alguns bons momentos de nossa dramaturgia (rapidamente isso saiu de minha cabeça, mas tenho que confessar que cogitei essa possibilidade) . À medida que ia encontrando essas respostas me invadia certa nostalgia de saber que isso ocorreu em um passado um distante (43 anos) e que hoje o teatro fazia pouco estardalhaço em relação a quase tudo.
Eis que me surge o Salmo 91, em momento de total desilusão e descrente do poder social do teatro assisto a esse espetáculo e encontro boa parte das respostas que procurava. O teatro não precisa e não vai resolver os problemas do mundo, sua função é e sempre será denunciá-los, apontá-los e a partir disso propor possíveis reflexões.
Em meio a tantas montagens comercias ainda conseguimos encontrar pessoas dispostas a retratar a vida dos oprimidos, dando voz a parte obscura da sociedade ( que se tornou "obscura" não por escolha, mas pelo sistema capitalista que induz a qualquer ser humano sem o mínimo de instrução (ou com nível elevado) a cometer qualquer crime.
Assistir ao Salmo 91 foi motivo de grande alivio e felicidade, principalmente ao constatar que o teatro não perdeu a sua função primordial. A peça resolveu conflitos de um ser humano que apesar de acreditar no teatro começava a duvidar o porquê da sua existência.
Percebi que o teatro ainda consegue ultrapassar os limites do palco e fazer através de um espetáculo motivo de protestos e conseqüentemente reflexão. É emocionante ver como o teatro ainda consegue mobilizar pessoas para o debate de questões contundentes. Em uma das criticas o autor afirma que "O teatro volta novamente a provocar” e são essas provocações que me movem e me fazem acreditar que mesmo com tudo e apesar de tudo, a arte ainda tem função primordial dentro de nossa sociedade pós-moderna.
Não bastasse o conteúdo político e engajado do espetáculo, não podemos esquecer de seu conteúdo artístico, que sobressai com o mesmo nível que qualidade de seu engajamento. O palco conta com uma escassez de recursos proposital, que possibilita um trabalho focado na força do ator, onde a palavra faz-se essencial. A direção de Gabriel Vilela é delicada e sem exageros, quase uma contradição ao falar de tema tão agressivo. Os personagens são bem construídos, tanto pelo trabalho individual de cada ator, quanto pelo impecável trabalho do dramaturgo Did Carneiro Neto, que captou em maestria os personagens do livro “Estação Carandiru” de Drauzio Varela.
Podemos assegurar que Salmo 91 deixa registrado seu nome na história do Teatro Brasileiro, seja por sua qualidade artística, seja por seu caráter político, mas principalmente por dar ao teatro um papel de protagonista dentro da sociedade, onde cabe a ele mostrar, denunciar, importunar, indagar, e principalmente: provocar.

NÃO SEI COMO ME PRONUNCIAR...

Não sei bem como me pronunciar a seu respeito.
Eu acho...que...depende...Falando sério, depende mesmo!
Um alguns momentos penso em você como pessoa eterna, que quero levar para o resto dessa vida e para todas as próximas.

Em outros penso que queria que você sumisse, é claro que esses pensamentos passam muito rápido, mas seguindo nossa teoria de que “pensamento é desejo” isso deve fazer algum sentido... (temos que refletir sobre isso).

Eu realmente não sei quais foram os desejos que nos uniram, mas tenho algumas hipóteses:
1) A busca pelas respostas de alguns conflitos;
2) O desejo de ter conflitos (e não são poucos os nossos);
3) A pós-modernidade;
4) Ter uma pessoa com quem em alguns momentos deixássemos de ser tão “atores sociais” que somos;

A resposta eu não sei, e nem me interessa saber. Na verdade eu quero é que você saiba o quanto que é importante para mim, apesar de tudo e de todos os nossos conflitos (políticos, ideológicos, artísticos, musicais) você me faz muito bem!

Reforça algumas opiniões, me desestabiliza em outras....mas nisso consiste a riqueza de nossa amizade...nossas provocações nada mais são do que um eterno desejo de superação, em que “nos permitimos” deixar de ser o que somos, para sermos o que de mais grandioso podemos ser.

Grata por você ter passado pela minha vida, por permanecer, por ser meu eterno provocador...

quinta-feira, 29 de maio de 2008

PERMITA-SE

Permita-se estar feliz....
Permita-se estar triste....
Permita-se ser feio....
Permita-se ser belo....
Permita-se estar confuso....
Permita-ser estar convicto....
Permita-se estar errado....
Permita-se estar certo.....
Permita-se estar cético....
Permita-se estar apaixonado....
Permita-se não saber o que fazer....
Permita-se saber não poder fazer nada....
Permita-se estar sendo egoísta....
Permita-se usar o gerúndio....
Permita-se se divertir....
Permita-se usar conotações ambíguas....
Permita-se não explicar suas ações....
Permita-se não precisar de nada....
Permita-se não usar monocromáticos....
Permita-se se levar pela emoção....
Permita-se se levar pela paixão....
Permita-se não ter razão....
Permita-se usar da razão....
Permita-se de um raciocínio de sua vontade....
Permita-se amar....
Permita-se ser amado....
Permita-se contar seus problemas....
Permita-se dividir seus sentimentos....
Permita-se de emoções à vontade....
Permita-se dela....
Permita-se dele....
Permita-se fazer com ela....
Permita-se compartilhar com ele....
Permita-se suar....
Permita-se estar desarrumado....
Permita-se estar atrasado....
Permita-se estar a seu tempo....
Permita-se fazer o seu tempo....
Permita-se sentir o seu tempo....
Permita-se nunca parar de sentir com o tempo....
Permita-se pedir carinho....
Permita-se ganhar atenção....
Permita-se se deixar ser gostado....
Permita-se gostar....
Permita-se não sentir medo....
Permita-se sentir-se assustado....
Permita-se sentir-se surpreendido....
Permita-se surpreender....
Permita-se cansar....
Permita-se causar....
Permita-se sentir falta de ar....
Permita-se tirar o ar....

Lobão

quinta-feira, 15 de maio de 2008

O DRAMA DA DRAMATURGIA

Deus não o escreveu numa pedra, Moises não o aplicou a seu povo, na Bíblia nem aparece, mas a nós foi revelado no meio de uma conversa de boteco: Não sejas complexo inutilmente!

por Natália Barud e Germán Milich




Segundo nosso velho amigo Tchékhov, “o homem é o que ele acredita”. Pensamos que também é o que escreve. Em cada rascunho, em cada palavra rabiscada, mostramos a sociedade em que vivemos o passado que nos rodeia e talvez esse velho mistério chamado espírito. Quem será que escreve a nossa história? E o melhor de tudo, a única pergunta que realmente não tem resposta (e que com certeza não a acharemos aqui): Por que a escreveria?
Todo dramaturgo cria os destinos de seus personagens, porque o grande sonho de todo homem é poder construir o seu próprio. O dramaturgo através do exemplo nos disse que pode ser, que é possível construir pelo menos parte de nosso futuro. O dramaturgo geralmente acredita em algo. Isso em que acredita é também o que tem a dizer.
Uns dos principais perigos de todo artista é o de se deixar seduzir pela forma. O conteúdo, ou seja, suas convicções, passam a um segundo plano, sem maldade ou talvez com um tipo de maldade tão sutil que não consegue perceber. O mundo de hoje é o mundo da forma, mais conhecida como “aparência”. Torna-se mais importante o espetáculo a encher os olhos do que as palavras a serem ditas.Será que nesses tempos silenciosos e desconexos a dramaturgia tem algo importante a dizer? Sempre se corre o risco de que uma arte vire um meio de reprodução social, que reproduza nossas injustiças e misérias sem considerar novas óticas a respeito e sem mudar nada em definitivo. Também pode acontecer nestes tempos tão velozes que a dramaturgia seja mais entendida como “a arte de costurar cenas desconexas para aparentar uma lógica”. Será que o mundo se transformou nisso? Um espetáculo tão aterrador que já nem precisa de uma lógica?
O homem, para viver em sociedade, precisa de leis. Não para censurá-lo nem anulá-lo, simplesmente para lembrá-lo de sua pequenez e alertá-lo dos possíveis erros que sua humanidade o fará cometer.Tomara que o campo da dramaturgia não vire uma terra sem lei, ou pior, que não comece a se reger pela lei da complexidade inútil e do exibicionismo.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

DESCONHEÇO O AUTOR

“Quero pedir de volta os meus cd’s, meu livro que você nunca leu, nem sei porque você pegou já que nunca ia ler mesmo, então, meu livro, algumas roupas minhas que estão na casa dos seus pais, e um bilhão de dólares por perdas e danos, porque por sua causa eu perdi tudo: inocência, fé na raça humana, vontade de viver, minha alegria, meu brinco no motel, e a culpa foi sua, perdi amigas, perdi as estribeiras, perdi o ânimo, você danificou meu corpo, minha mente, e com certeza danificou alguma fossa lacrimal, porque já chorei tanto por você, por mim, e o que é pior, já chorei por nós, pra você ver, já chorei por nós, como se valesse à pena”


* Desconheço o autor, mas penso que esse fragmento tem algo de legítimo. È o que o mundo tenta fazer conosco a tempo todo.

sábado, 12 de abril de 2008

PRA QUÊ?!

Tudo é vaidade neste mundo vão...
Tudo é tristeza, tudo é pó, é nada!
E mal desponta em nós a madrugada,
Vem logo a noite encher o coração!

Até o amor nos mente, essa canção
Que o nosso peito ri à gargalhada,
Flor que nascida e logo desfolhada,
Pétalas que se pisam pelo chão!...

Beijos de amor! Pra quê?!...Tristes vaidades!
Sonhos que logo são realidades,
Que nos deixam a alma como morta!

Só neles acredita quem é louca!
Beijos de amor que vão de boca em boca,
Como pobres que vão de porta em porta!...

FLORBELA ESPANCA

domingo, 6 de abril de 2008

Versos de orgulho

O mundo quer-me mal porque ninguém
Tem asas como eu tenho ! Porque Deus
Me fez nascer Princesa entre plebeus
Numa torre de orgulho e de desdém.

Porque o meu Reino fica para além ...
Porque trago no olhar os vastos céus
E os oiros e clarões são todos meus !
Porque eu sou Eu e porque Eu sou Alguém !

O mundo ? O que é o mundo, ó meu Amor ?
O jardim dos meus versos todo em flor ...
A seara dos teus beijos, pão bendito ...

Meus êxtases, meus sonhos, meus cansaços ...
__São os teus braços dentro dos meus braços,
Via Láctea fechando o Infinito.

Florbela Espanca

sábado, 29 de março de 2008

Carta escrita por ARTAUD

Levei bastante gente, homens e mulheres. Para ver aquela tela maravilhosa, mas foi a primeira vez que eu vi uma emoção artística tocar um ser e fazê-la palpitar com amor. Os seus sentidos estremeceram e eu dei conta de em que você o corpo e o espírito estão formidavelmente ligados, a ponto de uma pura impressão espiritual fazer detonar em seu organismo uma tormenta tão poderosa. Mas nesse casamento insólito é o espírito que predomina sobre o corpo e que terminará por dominar tudo. Sinto em você um mundo de coisas que pedem para nascer se encontrarem , o exorcista adequado.Você própria não tem plena consciência mas você invoca essas coisas com todo seu espírito e sobretudo os seus sentidos , seus sentidos de mulher que, em você, são também os sentidos do espírito .Sendo o que você é devia compreender a grande alegria dolorosa e mesmo a estupefação que experimento por tê-la encontrado assim: de um único golpe vejo... hermeticamente preenchida a minha solidão sentimental infinita, e preenchida de uma maneira que me perturba, o destino me trouxe desesperar de possuir; e como tudo o que o destino traz, tudo o que é inelutável e resolvido pelos céus. Isso me vem contra todos, sem nenhuma hesitação, espontaneamente, de repente, sem medo, lindo de meter medo! Posso acreditar que os mistérios são coisas deste mundo, pois eu e você somos deste mundo, nosso encontro é perfeito demais e me deixa estupefacto por uma espécie de dor. Além disso, há o fato de que meu espírito, minha vida é uma série de iluminações de eclipses e esses eclipses que acontecem em mim, acontecem também em torno de mim, em tudo aquilo que eu toco e não quero ser para quem se aproxima de mim, uma decepção. Você já teve ocasião de ver: em certos pontos tenho intuições, revelações fulgurantes e em outras não sou mais que trevas e idiotices, as coisas mais simples me escapam e torna-se preciso uma compreensão de rara sutileza para admitir, para aceitar essa mistura, uma vez que essas trevas afetam os sentimentos que tosos têm o direito de esperar de mim. Muitas coisas nos aproximam terrivelmente, mas, sobretudo uma delas: nosso silêncio.Você tem um silêncio veemente onde se pode dizer que se sente passar as essências, eu o sinto estranhamente vivo. Como um alçapão aberto sobre o abismo, onde se pode sentir o murmúrio silencioso e secreto da terra. Não há nada de poesia inútil e fabricada em tudo isto que te digo você bem sabe disso. Quero traduzir expressões fortes, impressões reais que tive a respeito de coisas que não se fala habitualmente. Na plataforma da estação, quando eu te disse: somos como duas almas perdidas nos espaços infinitos, senti passar o silêncio móvel que me faltava e que teria sido capaz de me fazer sangrar de alegria. Você me põe face a face comigo e eu sinto que posso não me envergonhar, quero você de abraços violentos, quero entrar em você, repousar em você e que sintamos juntos aquela vibração plena, você e eu aquela vibração que faz brotar à luz do dia as coisas do espírito. Só com você pode um abraço não se inútil, colocando em contato magnetismos contrários e que, aliando-se, a estabeleceria um ciclo perfeito. Já que você habita o mesmo domínio, podia muito bem me dar o que me falta, ser meu complemento. Se nossos espíritos amam as mesmas imagens, desejam as mesmas formas, as mesmas aparições fisicamente, organicamente, você é o calor enquanto eu sou o frio, a coisa ondulante, macia, voluptuosa, acariciante, enquanto eu sou o duro sílex, a vegetação calcinada e fóssil, a obsidiana, o duro mineral. Uma necessidade violenta e que é maior que você e eu, empurrou você pra mim, você compreendeu isso imediatamente, você percebeu as formidáveis semelhanças e o bem que poderia me fazer e que está destinada a me fazer mas como eu por momentos, fico cego, tenho medo que o destino a deixe cega também, que você perca bruscamente o contato com todas as descobertas, com essa vida que me deve maravilhar , tenho medo, pra dizer tudo, que o teu corpo, de repente ,a domine e que você não me reconheça mais o que, então, num desses períodos em que eu a perca inteiramente.alguma coisa de maravilhoso acaba de começar e isso pode preencher toda a vida, e lhe digo isso com toda a sinceridade de minha alma, toda a serenidade e toda a gravidade de que sou capaz, depois de oito dias. Amanhã fará oito dias que senti minha vida radicalmente transformada e ontem foi a consagração material dessa transformação radical. Me escreva, me escreva uma carta humana, completa, dizendo qual o preço que você cobra pela nossa união e as razões que te levam a dizer que você desconfia de mim em certo plano. Quando te peço que me explicite o preço de nossa união quero é leva-la a fazer brotar diante mim imagens em que se sinta a nossa própria vida.Desde ontem sinto o gosto de uma boca de mulher que me persegue, mas como uma idéia , como uma essência.Esse gosto não é coisa de corpo, ele me desnuda o sentido mesmo de uma alma, ele me ensina muitas coisas sobre toda uma vi9da secreta que sem ele eu nunca conheceria.Tenho nome que minha mãe me deu quando eu tinha quatro anos e que meus íntimos usam comigo: Nanaqui.Ele me descreve na minha inocência e no mais puro de minha vida.

Nanaqui.



Cartas a anais Nin – junho de 1933

quinta-feira, 27 de março de 2008

ALGUMAS IMPRESSÕES

Pouquíssimas coisas me incomodam de verdade...
Eu estou bem, muito bem...não gosto de sofrer...mas acho muito prazeroso essa história de dor e prazer...e por incrível que pareça os meus conflitos são relacionados com coisas que gosto muito ou quero muito...

Um conflito tem me afligido muito...é uma bobagem, mas para mim é serio...eu controlo boa parte das minhas emoções, acho que não preciso de ninguém, acredito que boa parte dos meus conflitos começam e terminam em mim, sou egoísta -- e acredito que tudo isso me afasta da vida...

Sempre tenho a sensação que não me exponho muito em nada...sempre contida e com controle da situação...Isso pode parecer algo bem interessante, mas não é...acho que no fim todas as minhas relações vão ficando técnicas e burocráticas...

É difícil falar de coisas que não acreditamos....ainda tem um agravante...nunca me apaixonei e tem horas que acho o "amor" uma bobagem...e os conflitos só pioram porque qualquer um se apaixona...começo a pensar que sou uma fria e incapaz de querer muito a um ser que não eu mesma...

Acho fascinante as pessoas sofrerem de amor...Acho de uma beleza, uma nobreza tão grande...acabei de descobrir uma coisa: "sofro por não sofrer"...

Eu deveria aprender a me permitir....

O Barudianismo

Pensamento é desejo: e o barudianismo nasce do desejo de expor seus inúmeros pensamentos. Através de suas idéias, idéias de outros, rascunhos, copias, resumos, resenhas, tudo e qualquer coisa que represente o nada ou coisa alguma que represente o todo ou nenhum dos itens anteriores.