sábado, 30 de outubro de 2010

O SENTIDOR


Hoje eu conheci um ser humano especial. Que ama, erra, chora, sorri, se arrepende, ama mais, goza e continua desejando. Nunca imaginei que pudesse existir um ser tão inteiro e tão partido, uma entrega limitada e ilimitada que seu corpo e sua mente buscam achar solução. Tive inveja das coisas que ele sente e que eu nunca serei capaz de sentir, talvez por medo, talvez por falta fé. Difícil sair dessa zona de conforto que te garante não se envolver, difícil se envolver e não saber como sair. Não sei se é louco ou sábio, mas ele permite sem se permitir e quer querendo não querer.

Busco entendê-lo e são tentativas vãs. Envolvo-me racionalmente por quem se envolve verdadeiramente. Encontrei nele algo que não sinto e só me resta admira-lo. Querendo-o bem, desse jeito meio estranho, meio sem saber por que, mas sabendo, esse querer não querendo. Nessa dualidade humana que difere o homem dos animais e o faz perceber que existem sensações ainda inexplicáveis.

Depois dessa semana “orgiástica”, totalmente influenciada pelo Teatro Oficina devo concluir com essa fala do espetáculo Taniko: “Suspirando, gemendo e amando, comendo e sendo comido neste vale de lágrimas”. E assim que ele vai vivendo, nesse paradoxo de lágrimas com gosto de mel. Amando, errando, sorrindo, arrependendo, gozando e ainda desejando.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Abominável mundo velho!


“Cada um pertence a todos”.
Esse é um dos principais preceitos desenvolvidos na obra prima de Aldous Huxley. Nesse mundo fictício pós-Ford as pessoas não podem aprofundar suas relações afetivas sexuais. Na verdade as sexuais sim, essas devem ser constantemente aprofundadas, mas sempre com parceiros diferentes. Já as relações afetivas devem ser deixadas de lado, já que cada um pertence a todos e todos devem fazer sua parte pelo bem do coletivo e da ordem do mundo.

As relações devem ser efêmeras e superficiais. Os papeis desempenhados na sociedade devem ser executados da melhor forma possível e qualquer vinculo duradouro e sentimental pode desvirtuar os seres humanos desse objetivo.

Por mais pessimista que Huxley possa parecer não há como negar que seu “mundo novo” alcançou algum sucesso. A sociedade sonhada por Ford cumpriu perfeitamente a função que se propôs. Embora isenta de sentimentos verdadeiros ele alcançou a noção de coletivo esperada e suprimiu as lutas de classe. Cada ser humano nascia apto e preparado a pertencer a determinada classe e entender a importância de seu papel para a manutenção da estrutura do sistema.

De certo modo, o mundo novo proposto pelo autor conseguiu obter mais “sucesso” que o nosso mundo velho. Não alcançamos nem a estabilidade social e nem o aprofundamento das relações humanas. Sinto que estamos cada vez mais distantes de alcançar qualquer idéia de coletivo ou sociedade sonhada. Muito menos radicamos nossas relações, elas são quase sempre tão superficiais quando as do mundo de Huxley. A grande questão é que não somos proibidos, poderíamos se quiséssemos, mas não nos interessa a lógica de “estreitar laços”.

Sempre permanece o medo de estreitar laços e esses mesmos laços nos sufocarem com o passar do tempo. Fizemos das nossas relações uma verdadeira volta a infância, com os mesmos medos de rejeição. Podemos comprovar em outra célebre frase de nosso exímio autor. “Adultos intelectualmente e nas horas de trabalho, criancinhas no que diz respeito ao sentimento e ao desejo”. Embora o autor demonstre a vida social em seu admirável mundo novo, o seu real sentido se faz totalmente presente em nosso admirável mundo velho.

Não fomos criados em incubadoras e nem nossos conhecimentos foram manipulados nos berçários, no entanto, somos tão imaturos sentimentalmente quando os tomadores de “soma”, com a triste diferença que eles foram educados para tal função e nos não, aprendemos sozinhos.

Somos imaturos por opção. Por limitação humana. Diante disso fico pensando que Aldous foi muito otimista ao descrever o que seria esse mundo novo, tendo em vista que nem de longe estamos perto de pertencer a qualquer coisa que soe como admirável. Tecnologia que nos permite ir à lua, relações tão tacanhas que nos fincam os pés no chão.