sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

RETROSPECTIVA BARUDIANISTA

Pensei muitas vezes se deveria escrever essa retrospectiva do ano de 2011. Não que ele não mereça, mas o excesso de “eventos” marcantes me fez ter medo de esquecer coisas e pessoas importantes. Eduardo Galeano diz que "A memória guardará o que valer a pena. A memória sabe de mim mais que eu; e ela não perde o que merece ser salvo." Eu não acredito nisso. A memória vai perder coisas importantes, não porque não foram importantes, mas porque o novo tem um sabor inenarrável. É sempre a possibilidade do desconhecido que abre perspectivas para um futuro e permite ao passado se ausentar, ainda que temporariamente. A memória perde sim o que merece ser salvo, e muitas vezes exatamente por isso. Nenhuma lembrança é isenta de sentimento, e às vezes, esquecer é se refazer para uma próxima lembrança mais doce.

Não é um objetivo fazer dessa retrospectiva uma “memória justa” como deseja Ricoeur. Muito pelo contrário, ela será injusta em vários aspectos. Com certeza me esquecerei de pessoas incríveis, não porque não vivemos momentos importantes, mas simplesmente porque os sentimentos vão além do que pode ser lembrado. Uma vez escrevi para uma amiga que “Talvez eu te ame para sempre. Talvez não. Mas hoje eu lhe afirmo que isso é extremamente verdadeiro.” Acredito nisso. Deixar de lembrar não quer dizer que não tenha sido verdadeiro no momento em que foi vivido. Às vezes acontece o que Rubem Alves constata: “infinitamente belo, insuportavelmente efêmero”. Cabe a nós dar sentido a efemeridade da vida e reagir com leveza às rupturas e esquecimentos que aparecem.

Olhando com distância, tenho a sensação que 2011 começou muito triste, muito angustiante. Talvez motivada pelo presente, eu acredito que ele termina muito melhor, infinitamente melhor. A questão do mestrado havia me deixado muito desestabilizada e ainda que coisas legais estivessem acontecendo, nada servia de consolo. A questão era minha, como sempre acredito que é. No meu diário tem uma frase ótima que refletia esse período: “nem tão feliz quanto imaginei, nem tão desgraçada como poderia ser”. Analisando hoje, eu diria que era um exagero da minha parte. Era muito mais doce do que eu poderia dimensionar naquele momento.Confesso que os programas ao lado da Rayanne Abranches, Lucas Souto, Rafaella Reinhardt, Deivison Amaral e Priscila Veronique amaciaram minha dureza. Foram Tardes Tortas, bares sem fim, Praia da Estação, Belas Artes e um calor infernal dos dias de janeiro. Apesar disso, era uma crise constante, que eu me irritava fácil e não sabia como reagir ao pensar no futuro.

Comecei a trabalhar na “Casa do Caminho” e me fez muito bem! Passei a pensar duas vezes antes de fazer qualquer reclamação da vida. Acho que foi um dos principais motivos pelo qual meu ano ficou muito mais bonito. Aproveito para agradecer a todos que ajudaram na Festa de Natal, terminado o evento, só ficou a alegria e um sentimento profundo de gratidão a todos que contribuíram para aliviar a dura realidade dos meninos.

Ainda em fevereiro, fui chamada para o mestrado e a vida foi só alegria. Passei pelo menos dois meses em lua de mel com a existência. Fui para a praia com meus pais e o mundo só podia ser bonito. Às vezes acho clichê falar do amor materno, mas minha mãe é realmente um ser evoluído. Consigo passar dias com ela e continuo achando-a a coisa mais linda do mundo. Ainda na sessão familiar, preciso falar da viagem para Cabo Frio, com minha irmã Priscila e meu cunhado Cláudio. É sempre bom o tempo que passo com eles...ser vela nem é um peso! Já aguardo a nossa próxima viagem, sugiro Recife! rsrs

Foi também um ano de encontros, como sempre acredito que é. Desconfio que esse ano tenha sido no atacado. Em muito pouco tempo conheci pessoas muito especiais com quem vivi coisas indescritíveis. Com Juliana Ventura pude comprovar que não se tem uma amiga psicóloga ilesa. Tenha certeza que ela vai dizer coisas difíceis. Com ela tive a trágica constatação de uma primeira experiência de amor no meio da Paulista. Não bastava ser um mês frio como julho eu ainda tive que me haver com essas questões, num diálogo quase teatral.

Juju: Barudinha, a gente só diz essas coisas quando está apaixonada. Você está vivendo sua primeira experiência de amor, flor!
Barud: (Barudinha só chora, e muito).
Juju: Pode chorar amora, nessa cidade cão que é São Paulo, ninguem te percebe. Pode chorar...estou com você.


E foi exatamente isso que fiz. Chorei. Chorei. Narrei. Segundo Juju, temos que narrar os eventos traumáticos. Eu narro para esquecer. Eu narro para amar de novo. E às vezes, até para socializar. Teve choro coletivo no Sapão Taioba junto com Ana Marília, Gabriel, Natiele e Juju. Lindo, lindo e trágico. Mas o que se pode esperar de uma noite que termina em um bar chamado “Abutres”? rs

Ainda falando dos amigos recentes não posso deixar de citar as peripécias da ANPUH, com Gabriel Da Costa Ávila e Diego. Com o Diego eu mais briguei e talvez seja a única pessoa do mundo com quem eu consigo perder toda a minha delicadeza. É uma brincadeira Diego, te conhecer esse ano me deixou alguns desejos: o de ser mãe (que fica mais forte ao te ver falar do Emílio), de ir mais ao Maleta e de continuar tendo com quem extravazar minha ira. rsrs. Apesar das brigas com Diego, tive excelentes momentos com Gab: “É noís na Ipiranga com São João, Barudinha”! E era noís em toda São Paulo! Barudinha fazendo vômito, bebendo,ficando feliz de encontrar com Dênio Sarôa e Débora Viveiros, chorando, não dormindo e Gabriel mandando a Senhora Odebrecht tomar no cú. Cenas incriveis! Só perderam para a beleza do Rio ao lado de Ju e Ana. “As luzes da cidade” só me deram alegria! Caminhar pelo Botafofo com Ana foi um momento lindo! Muito mais leve e muito doce! Ver o primo Henrique foi outro evento que me deixou feliz! Ainda das pessoas especiais que conheci esse ano não posso esquecer do Valmir Santos, Jonathan Tadeu, Francismary Alves (achei alguem que acorda no mesmo horário que eu, pensei até em casar com você), Natielle Rosa, Rodrigo Pezzonia, Katy Magalhaes, Fábio,Adriano Toledo, Dayse Lucide, Miliandre Garcia (que me enviou um presente por e-mail e sempre foi muito cuidadosa com minhas dúvidas) , Nyvea Karam meu novo pai Marco Antônio Silveira.

Dos amigos que seguem comigo, além dos já citados, posso acrescentar minha segunda família Figueroa, Paulo Junior, Melina Figueroa e minha madrinha Michelle Figueroa. Minhas amigas de infância Tassiana Leal e Jacqueline Gomes, que mesmo com o passar dos anos continuamos sustentando nosso afeto. A família Pigmalião, com Adriana Souza, e Luiz Bittencourt, Paul e Corninho. Minha querida amiga Rose Campos, com quem compartilhei deliciosos vinhos, ao fiote Alex Alex Jason que me levava de ressaca para a UFMG nas segundas de manhã. Fabiano Fabiano Persi, com quem encontrei muito menos do que gostaria. Camila Martins, por sua maturidade recente, Sânia Barcelos por nosso reencontro, e todos os amigos Débora, Carlão, Verônica Martins, Reginaldo Martins, Rege Marques e a prima Maria Isabel.

Foram muitas as leituras que deixaram meu ano mais belo e mais angustiante. Obviamente não vou citar todas, apenas as que ajudaram a sustentar aquilo que sou. A “Insustentável Leveza do Ser” do Kundera e é belíssimo. Conhecer Praga com Ana Marília virou um sonho eterno. Teve Calvino com seus “Amores Difíceis” , Sartre, Thomson, Dias Gomes, Tolstói, Darcy Ribeiro, Guarniere, Ricoeur, Antônio Callado e por muitos outros. Não sem dúvidas eu penso ser “O museu da inocência” o meu livro do ano. No meio de reflexões sobre a memória e o esquecimento esse livro se torna eterno. "Esses raros e "felizes" interlúdios do esquecimento eram muito breves - um ou dois segundos" -, e em seguida o lampião negro tornava a acender, espalhando sua escuridão funesta por meu estômago, minhas narinas, meus pulmões, até um quase sufocar, até o simples fato de estar vivo transformar-se num tormento."Deixo aqui os meus agradecimentos aos amigos com quem compartilhei um pouco dessa linda obra: Gustavo Primo, Beatriz França, Ana Leví, Dênio Saroa.

No campo acadêmico não posso deixar de citar as aulas da Miriam Hermeto, Juniele, Marcos Napolitano e Rodrigo Czajka. Essas pessoas demonstram todo o seu respeito pelo conhecimento ao fazer da academia um lugar de debate e não de exaltação do próprio ego. É uma pena que pouquíssimos professores universitários façam o mesmo.

Esse ano teve duas temporadas do Galpão e nem preciso dizer que sempre é uma alegria para mim! Revejo pessoas especiais e conheço pessoas belíssimas! Agradeço aos meus companheiros de viagem Beatriz Radicchi (com quem eu queria ter sido mais presente esse ano), Evandro Villela (lindissímo), Eberton, Helvecio Alves Izabel, Vinicius Alves, João Santos, Ana Alyce Ly, Ana Ana Amélia Almada Arantes, Cláudinha, etc. Como é mesmo que João me apresenta? “Essa é a Nat. A esporádica mais permanente...”rsrs. Estou me acostumando com essa titulação... Nessas temporadas conheci duas pessoas especiais...uma delas é Beatriz França, com quem compartilho de uma dor parecida. E William Gomes que me encantou com seu generoso coração. Não posso esquecer é claro, dos atores, que sempre deixam mais alegres os intervalos do espetáculo.

Enfim, acredito ser sido um ano muito bonito, que chegou trazendo pessoas que alegraram minha vida! E quando eu pensava em 2011 como passado, me aparece uma linda viagem para Paraty, com Rafaella Reinhardt. Era tudo que eu precisava para terminar o ano bem. Realmente é verdade que a vida é muito boa e que choramos é de safadeza! Mesmo passando o efeito da degustação de cachaça eu continuo pensando que vale a pena ser otimista e acreditar que podemos ser mais leves. Mudanças são sempre bem vindas, né Rafaella Reinhardt?

É isso! Desejo que esse ano seja mais tranquilo. Que sejamos mais fácies na convivência, menos difíceis nas relações e que o Ìtalo Calvino se engane de vez em quando. É somente isso que eu desejo... que seja doce.