sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

DESNUDA





Nesses últimos dias tudo tem me afetado de forma grave. Tudo me machuca igual, da maior demonstração de afeto à extrema hostilidade. Sem distinção de bem ou mal, tudo me comove, tudo me deixa em êxtase, tudo me brocha.

Estou passando por um momento especialmente difícil, (não, não é um drama, digo tudo isso com uma serenidade absurda e com uma dor quase racional). Não sei como você apareceu. Não sei se essa é a palavra, mas acho que você tem uma vida burlesca e acho que antes de pensar em inovar, ou surpreender, ou na repercussão do que diz, você acaba pensando no que quer dizer para você mesmo. Nem sei se é apenas isso, são apenas algumas conjeturas. Perdoa minha inocência caso eu esteja te reduzindo.

Ando desgostosa daqui, embora aqui tenha nascido minhas paixões de toda e qualquer espécie. Tenho vivenciado sentimentos antagônicos, tanto medo de ir quanto de ficar. Acho que faz parte da minha eterna insatisfação de ser humano, embora já tenha idade suficiente para saber que qualquer idéia de completude ou satisfação plena não corresponde a essa esfera terrestre.

Meu desejo é ir para Paris e ficar lá um tempo, transitando pelas ruas e procurando algum sentido para a existência.Você pode ir comigo, se quiser. O plano original era ir sozinha...ou pelos menos era, sei lá. Você já deve ter percebido que eu não sei de muita coisa.

Em meio a esse turbilhão de conflitos estritamente existenciais e no dia de uma noite com gosto de lágrima e cerveja com sal entendi o que o Saramago queria dizer quando afirma que “alegria e tristeza não são como óleo e água, elas coexistem”. É estranho demais...aquela noite me doeu, tudo me doeu e no meio disso tudo existia também prazer. Acho que nunca sei a medida certa das coisas, sempre tive dificuldade de definir bem a idéia de prazer e de dor, pra mim tudo sempre é dividido por uma linha muito tênue.

Não pense que exista desespero. O sentimentalismo exagerado me irrita um pouco, acho lindo criar despretensiosamente, sem obrigações para com o amor, com pessoas físicas, jurídicas, etc...Não pense que digo isso por frustração com o amor. Pelo contrário, por amar muito e muitas coisas ao mesmo tempo é que acho quase desonesto deixar o mundo vagando e focar em meio a tudo um único objeto de desejo. Eu tenho vários e posso lhe mostrar, caso você queira. Desnuda.

Devo dizer que se desnudar é um grande exercício. Mostrar o que sou e o que posso ser. Não se iluda! Não posso ser grande coisa. Nunca pude. É uma limitação humana e que nessa altura da vida não faço questão de mudar. Quero dizer o que vem a cabeça, sem pensar em rima ou conexão. Sem medo de que as pessoas reduzam o real efeito das coisas e caia na superficialidade sentimental. Por favor, não me entenda mal, se ficou parecendo isso é somente porque não consegui palavras melhores para me expressar.

Eu podia ter guardado isso tudo somente para mim, mas como diria meu amado Caio Fernando Abreu, “eu não quero ter vergonha de nada que eu seja capaz de sentir.” Tenho me exercitado para perder esse medo do ridículo e dentro do possível tenho conseguido. Fico feliz por mim, fico feliz por você.

E a nudez já não me incomoda mais...


Natália Barud