terça-feira, 4 de janeiro de 2011

RETROSPECTIVA BARUDIANISTA


O que dizer de 2010? Em primeiro lugar afirmo ter sido um ano Hobsbawniano, de muitos extremos. Alguns momentos de felicidade absoluta, outros de tristeza colossal! O mais surpreendente é que toda essa mistura de sentimentos conviveu de forma “pacífica”, com pequenas oscilações entre guerra e paz.

Em alguns instantes consegui me esquecer das guerrilhas cotidianas. Meu coração de gelo foi derretido por homens e mulheres, que acabaram por mudar minha percepção da vida e da arte. O que dizer de Andy Warhol? Sua superficialidade foi tão intensa que minimizou minha concretude. Rodin se tornou abstrato perto dele! Lindo, mas abstrato...

Camile Claudel se faz mais humana com suas ausências. Suas palavras me tocaram tanto quando suas esculturas. Vi o mundo onírico de Marc Chagall, mas não consegui entrar por inteiro, sonhei pequeno e com a pouca fé que me é particular. Woody Allen continua me encantando, é como se fossemos conhecidos de longa data, a cada filme é um novo reencontro. Acabei de distanciando do Almodóvar, mas nesse ano que se inicia tentarei resgatar nossa “relação”.

Gustavo Dudamel se tornou meu maestro querido não só por seus cabelos cacheados e sua qualidade artística, e sim por ser um claro exemplo do sucesso do "El Sistema," importante projeto musical venezuelano. New Orleans Jazz me fez chorar algumas vezes, embora nada tenha superado os choros incontidos do meu “Último Romance”. Madeleine Peyroux embalou crises depressivas, mas Piaf teve seu lugar quando me pedia para não ser deixada.

Em âmbito nacional me apaixonei por Thiago Pethit. Resgatei o Otto para minha vida e dele vi um show inesquecível, em um dia péssimo! Cantei até chorar: “Aqui é festa amor. E há tristeza em minha vida”, era a nítida a sensação de que ele cantava para mim. Tive ainda minha fase Graveola , e os tênues fios que me ligavam a banda ficaram em prantos quando a ruptura se deu.

No teatro, é importante citar "Os fofos encenam" que com o espetáculo “Memória da Cana” levaram Nelson Rodrigues para o sertão pernambucano. Teve o "Oficina Uzina Uzona" na Barragem Santa Lucia, dividindo minha vida em duas! Suspirei, gemi e amei! No “Banquete”, não comi e nem fui comida, mas isso não fez nenhuma diferença. "O sexo é o consolo que a gente tem quando o amor não nos alcança", já diria Gabriel Garcia Marques.

Falando nele, não posso negar a beleza de "Memórias de Minhas Putas Tristes". Mas o que esperar de alguém que escreveu "Cem anos de solidão?". Das minhas paixões literárias que permaneceram eu cito Saramago, Diderot, Caio Fernando Abreu e Platão. Das paixões recentes e até então desconhecidas eu coloco Nabocov, Huxley, Gilberto Freyre e Koselleck.

No campo da vida vivida e não lida, é importante lembrar que foi ano da Copa do Mundo! O Brasil não ganhou! Mas com meu patriotismo abalado eu não consegui sofrer. O que eu consegui foi tomar o maior porre da minha vida, com uma mistura louca de regime e caipirinha. De modo geral, a Copa passou despercebida por minha vida, sem fazer muita diferença.

Diferença fez o Plínio alcançando um milhão de votos e a Dilma ganhando a eleição! Teremos a continuidade dos projetos do governo anterior e um olhar direcionado também para as classes desfavorecidas. O “socialista” Obama não vai bem, para minha tristeza. Mas Julian Assange acabou de ser solto e deve continuar causando pânico com os documentos divulgados no portal WikiLeaks. Pensei em lhe enviar uma “cartinha”, lhe pedindo ajuda no processo de abertura dos arquivos da Ditadura Brasileira, talvez ele possa dar alguns conselhos aos seus novos “coleguinhas” brasileiros.

Nesse ano fiz novos amigos e reguei amizades antigas. Ocorreram uniões cósmicas, médicas, sólidas, artísticas, étnicas, superficiais, vampirísticas, espirituais e etílicas. Simplesmente porque eu estou viva, simplesmente porque vou morrer.

Tendo por base o ano de 2010, eu ainda mantenho a frase que sempre desejei estampar em minha lápide, “aqui jaz alguém que amou a vida”, mesmo que vez em quando eu a tenha odiado com todas as minhas energias. Entendi que todos os meus desejos de morte ocorrem devido às “ausências” desconhecidas que povoam minha mente. É a minha eterna espera por Godot! Percebi a instabilidade de minha vida e minha instabilidade para com ela. Vamos nos provocando, nos perseguindo e tentando colocar alguma ordem no caos.

Também o caos foi um fiel companheiro durante esse ano. A falta de ordem proporcionou momentos sublimes. Teve Praia da Estação, lavagem da prefeitura, blocos de carnaval, despedida pra Portugal, choro incontido, riso descontrolado, mestrado que não passei, decadência, as bacantes, monografia, mais decadência, show da chuva, cafés da cantina, bebedeiras no Geraldinho, formatura, nascimento da Isabel, Transborda que não transbordou, duelo no viaduto, FIT, Mineirão, carro batido e Stone.

Ainda não tenho distância temporal para descrever 2010 com precisão, mas indico algumas possibilidades de interpretação: arrebatador, depressivo, cabuloso, feliz, psicodélico, decadente, interessante, surpreendente.

Deixo aqui registrado algumas pessoas que compartilharam momentos indescritíveis (em todos os sentidos) durante esse ano que chegou ao fim: Lucas, Zé Celso, Susan, Rafaela, Acauaca, Rayanne, Diet, Gilmar, Dione, Gustavo, Dri, Henrique, Lulu, Veriano, Camila, Rose, Paul, Deivison, André, Celo, Bia, Claudão, Pri, Castor, Lena, Carla, Isabel, Rodrigo, Nosferatu, Fabiano, Ana, João, Paulo, Arquiteto, Cidão, Tassi, Jacque, Fabrício, Virgínia, Dênio, Chapoca, Moisés,Mariana,Verônica,Alan, Leo Santiago...

Alguns lugares também não podem ser esquecidos: Praça da Estação, Barragem Santa Lucia, Maleta, Mercado Central, Serra, Sagrada Família, Botafogo, Coração Eucarístico, Perdizes, Funcionários, Postinhos de BH, Jaboticatubas, Lagoa Várzea das Flores, Sabará, Barro Preto, baixo Centro...

Com certeza me esqueci de várias pessoas, diversos lugares e de tantos outros momentos marcantes. Perdoem-me! Mas ando muito empenhada em lembrar que a vida é breve, a morte é só uma questão de tempo e que uma vida bem vivida exige uma dose de loucura e intensidade. Obrigado a todos que fizeram da minha vida mais intensa, mais vivida e mais surpreendente! Que façamos mais e melhor em 2011!
Abraços!
Barud

4 comentários:

lsjack disse...

Belo Horizonte, janeiro de 2011.

Barud,

sua retrospectiva ficou muito boa. Compartilhei de alguns desses eventos e gostaria de assuntar um pouquinho.

Uma pena eu não ter intelecto bastante pra papear sobre Rodin, Chagall, Claudel, Allen, Huxley, Koselleck, etc etc. Não gosto de me meter nesse tipo de assunto com gente gabaritada.

Enfim, partirei então para os eventos partilhados lado a lado na pista. Realmente tivemos enlaces musicais interessantes. Shows ainda frescos na minha fatigada memória. Seus "tênues" laços com o Lixo Polifônico nos levaram ao Grito Rock em Sabará, para uma primeira viagem em família. O meio do ano nos reservou uma despedida, com o adeus ao Mineirão em um show do Skank. Variando os estilos, sabendo do seu refinado gosto, um pouco de Jazz no Savassi Fest. O Transborda não transbordou, mas trouxe um renovação no conceito de parceragem. E fechando o ano com o show dos Direitos Humanos, reafirmando seu humanismo nascido com a Revolução Francesa, e o inesquecível show do Otto.

O teatro de FIT's, com a peça dos bonecões cabeçudos da Praça da Liberdade; de Galpão na UFMG, rememorando 2009; e a Dionisíacas, inaugurando uma nova concepção filosófica e moral, e causando rebuliços; também se fez presente, para o seu deleite, não é?

Academicamente concluímos aquilo que fez com que nossos destinos se cruzassem... enfim, já que concluímos, me despeço por aqui! [haha... brincadeirinha! rs] Espero que ainda reste um pouco de estrada pra caminharmos juntos nesse tipo de jornada. Talvez o nosso seminário pós-moderno preencha essa lacuna.

Ah... continuo discordando da sua visão política. Também celebrei o Plínio, mas não confio nenhum pouco na senhorita Rouseff. rs

Enfim, foi um bom ano... nem mais pra lá, nem pra cá. Fiquei satisfeito em partilhar mais esse tempo junto... ele nos serviu até mesmo para constituirmos uma bela família. rs

Agredecido por esses quatro anos de loucuras.

Um beijo do seu guti-guti!

Natália Barud disse...

Querido Lucas,

sou eu quem agradeço a sua presença constante da minha vida. Parafraseando Zeca Baleiro devo dizer que "você faz da minha carne triste quase feliz"...rsrs. Foram maravilhosos os momentos que passamos juntos! Que possamos vivenciar muitos outros!

Esse ano já começaremos bem com nosso espetáculo em "Ribeirão das Neves"!! Obrigado por compartilhar das minhas viagens imaginárias ou não!

Nem foram tantas loucuras assim. Na verdade, bem menos do que eu gostaria. Loucura será quando tivermos nosso ap no Floresta!!kkkk

Que nossa família continue crescendo e que a pós-modernidade continue nos unindo! Você será o eterno guti-guti da Barudinha!
Te amo de graça e demais!

Beijo da Barud

Mila disse...

Vou me meter nas declarações familiares e deixar meu pingo também...nesse oceano (nada calmo) que foi 2010. Para mim foi um ano de perdas, perdas que ainda não superei. Também redescobri amizades e fortaleci outras. Pude ver que apesar de ter poucos amigos, eles valem por mil amigos em mil vidas! Vocês dois estão indubitavelmente na lista dos dedos das mãos, que cabe todos.

Não meterei o bedelho nos doutos senhores citados, sigo a linha do Lucas dos não gabaritados rs

Momentos tive e lugares também nesse ano! Fui à pça da Estação, mas não os vi :/
Praça da Liberdade também, sempre...alguns outros lugares sofredouros...enfim.

Muita sorte e luz para todos nós! Espero contá-los em meus dedos por muitos anos ainda dessa breve e sinuosa vida! Beijos

Alan Geraldo disse...

a marca de nosso encontro é mútua...