segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

MEMÓRIAS CORPORAIS

Quando era criança eu sonhava com sensações. Sonhava muito, dormindo e acordada. Gostava de pensar da duplicação de prazeres e de como sempre podia ser melhor. Eu imaginava como seria tomar sorvete com calda de chocolate no alto na montanha russa. Pensava que ir para a Disney, vestida com fantasia de Cinderela, ao lado da melhor amiga, devia ser a melhor coisa do mundo! E a vontade de voar sobre o mar? Eu passava horas conjeturando como seria essa sensação e de alguma forma, acredito que buscava a imensidão.

Nesses últimos dias em que retomei o meu contato com o mar, voltei a ter algumas memórias corporais da infância. O cheiro do mar me enjoava, assim como quando era criança. Achei estranho pensar que meu problema com cheiros e enjôos vem desde a infância. Os meus sonhos não cabem mais nos castelinhos de areia que eu fazia, mas nem por isso são melhores. Acho que o período da infância tem a capacidade de produzir nossas maiores inspirações imaginárias, acho que na fase adulta perdemos um pouco desse frescor. Vi-me desarmada ao perceber que não tinha armas contra a imensidão do mar. Quando eu era Barudinha tinha colher e baldinho e isso era o suficiente para eu me sentir protegida.

Pude observar algumas mudanças consideráveis entre eu (presente) e essa mocinha linguaruda da foto (passado). No entanto, a essência continua quase a mesma. Ainda tenho algumas armas para lutar contra o tédio da vida, algum desleixo com a estética, que me permite usar um cabelo tão desgrenhado quanto o dela, e uma vontade imensa de viver, ainda que vagando meio sem rumo, se equilibrando em inexperientes pernas.

Natália Barud

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