quinta-feira, 15 de maio de 2008

O DRAMA DA DRAMATURGIA

Deus não o escreveu numa pedra, Moises não o aplicou a seu povo, na Bíblia nem aparece, mas a nós foi revelado no meio de uma conversa de boteco: Não sejas complexo inutilmente!

por Natália Barud e Germán Milich




Segundo nosso velho amigo Tchékhov, “o homem é o que ele acredita”. Pensamos que também é o que escreve. Em cada rascunho, em cada palavra rabiscada, mostramos a sociedade em que vivemos o passado que nos rodeia e talvez esse velho mistério chamado espírito. Quem será que escreve a nossa história? E o melhor de tudo, a única pergunta que realmente não tem resposta (e que com certeza não a acharemos aqui): Por que a escreveria?
Todo dramaturgo cria os destinos de seus personagens, porque o grande sonho de todo homem é poder construir o seu próprio. O dramaturgo através do exemplo nos disse que pode ser, que é possível construir pelo menos parte de nosso futuro. O dramaturgo geralmente acredita em algo. Isso em que acredita é também o que tem a dizer.
Uns dos principais perigos de todo artista é o de se deixar seduzir pela forma. O conteúdo, ou seja, suas convicções, passam a um segundo plano, sem maldade ou talvez com um tipo de maldade tão sutil que não consegue perceber. O mundo de hoje é o mundo da forma, mais conhecida como “aparência”. Torna-se mais importante o espetáculo a encher os olhos do que as palavras a serem ditas.Será que nesses tempos silenciosos e desconexos a dramaturgia tem algo importante a dizer? Sempre se corre o risco de que uma arte vire um meio de reprodução social, que reproduza nossas injustiças e misérias sem considerar novas óticas a respeito e sem mudar nada em definitivo. Também pode acontecer nestes tempos tão velozes que a dramaturgia seja mais entendida como “a arte de costurar cenas desconexas para aparentar uma lógica”. Será que o mundo se transformou nisso? Um espetáculo tão aterrador que já nem precisa de uma lógica?
O homem, para viver em sociedade, precisa de leis. Não para censurá-lo nem anulá-lo, simplesmente para lembrá-lo de sua pequenez e alertá-lo dos possíveis erros que sua humanidade o fará cometer.Tomara que o campo da dramaturgia não vire uma terra sem lei, ou pior, que não comece a se reger pela lei da complexidade inútil e do exibicionismo.

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