terça-feira, 12 de outubro de 2010

Abominável mundo velho!


“Cada um pertence a todos”.
Esse é um dos principais preceitos desenvolvidos na obra prima de Aldous Huxley. Nesse mundo fictício pós-Ford as pessoas não podem aprofundar suas relações afetivas sexuais. Na verdade as sexuais sim, essas devem ser constantemente aprofundadas, mas sempre com parceiros diferentes. Já as relações afetivas devem ser deixadas de lado, já que cada um pertence a todos e todos devem fazer sua parte pelo bem do coletivo e da ordem do mundo.

As relações devem ser efêmeras e superficiais. Os papeis desempenhados na sociedade devem ser executados da melhor forma possível e qualquer vinculo duradouro e sentimental pode desvirtuar os seres humanos desse objetivo.

Por mais pessimista que Huxley possa parecer não há como negar que seu “mundo novo” alcançou algum sucesso. A sociedade sonhada por Ford cumpriu perfeitamente a função que se propôs. Embora isenta de sentimentos verdadeiros ele alcançou a noção de coletivo esperada e suprimiu as lutas de classe. Cada ser humano nascia apto e preparado a pertencer a determinada classe e entender a importância de seu papel para a manutenção da estrutura do sistema.

De certo modo, o mundo novo proposto pelo autor conseguiu obter mais “sucesso” que o nosso mundo velho. Não alcançamos nem a estabilidade social e nem o aprofundamento das relações humanas. Sinto que estamos cada vez mais distantes de alcançar qualquer idéia de coletivo ou sociedade sonhada. Muito menos radicamos nossas relações, elas são quase sempre tão superficiais quando as do mundo de Huxley. A grande questão é que não somos proibidos, poderíamos se quiséssemos, mas não nos interessa a lógica de “estreitar laços”.

Sempre permanece o medo de estreitar laços e esses mesmos laços nos sufocarem com o passar do tempo. Fizemos das nossas relações uma verdadeira volta a infância, com os mesmos medos de rejeição. Podemos comprovar em outra célebre frase de nosso exímio autor. “Adultos intelectualmente e nas horas de trabalho, criancinhas no que diz respeito ao sentimento e ao desejo”. Embora o autor demonstre a vida social em seu admirável mundo novo, o seu real sentido se faz totalmente presente em nosso admirável mundo velho.

Não fomos criados em incubadoras e nem nossos conhecimentos foram manipulados nos berçários, no entanto, somos tão imaturos sentimentalmente quando os tomadores de “soma”, com a triste diferença que eles foram educados para tal função e nos não, aprendemos sozinhos.

Somos imaturos por opção. Por limitação humana. Diante disso fico pensando que Aldous foi muito otimista ao descrever o que seria esse mundo novo, tendo em vista que nem de longe estamos perto de pertencer a qualquer coisa que soe como admirável. Tecnologia que nos permite ir à lua, relações tão tacanhas que nos fincam os pés no chão.

2 comentários:

lsjack disse...

"Abrindo as portas da percepção, um tal de Aldous Huxley, de cara, ficou doidão! Ao tomar toda a solução" (J. Maçã)
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Não concordo com seu texto, mas fico feliz com seu retorno!

Alan Geraldo disse...

Os males sociais e humanos são construídos. Do mesmo modo podem ser desconstruídos. Basta percebe-los.

Ótimo texto. Um dias as massas evoluiram em povo.