quarta-feira, 27 de julho de 2011

A MOÇA DE BIQUÍNI AZUL

Eram duas da tarde quando a moça de biquíni azul se colocou a chorar desesperadamente. Parecia que ela segurava o choro desde cedo, pois logo que foi deixada pelo casal que lhe acompanhava ela caiu em prantos. Fez algumas ligações e chorava ainda mais. Em alguns momentos dava risadas soltas em meio ao choro, como quem sabe que o sofrimento é sempre passageiro. Quis me aproximar várias vezes, mas tive medo da sua reação. Por vários minutos a olhei intensamente como se pudesse ler em suas lágrimas os motivos que lhe afligiam. A principio pensei que fosse a morte de em ente querido, devido ao seu desespero. Ou ela podia ter acabado de perder seu emprego e estava desesperada em como pagaria suas contas. Pensei que poderia ser também o fim de algum relacionamento, mulheres nessa idade costumam chorar por essas coisas. Por algum motivo pressenti que não era por isso...talvez porque esse fosse o meu desejo. Ela tinha um livro nas mãos, no qual lia e aumentava o fluxo de suas lágrimas. Fiquei curioso para ver a capa, mas ela o segurava em seu colo e impedia que ele subisse ao alcance de meus olhos. Depois de quase uma hora consecutiva de pranto eu comecei a ter pena de todo esse sofrimento e tomei coragem de me aproximar. Eu comecei dizendo que tinha uma filha da sua idade e que era muito natural ela ter essa mesma atitude. Confesso ser uma grande mentira, já que minha filha estava sempre muito bem, mas achei que assim era um bom meio para que ela pudesse me escutar. Perguntei o motivo do seu choro e ela mentiu, obviamente.
- Não é por nada. Às vezes fico melancólica, mas nunca tenho um motivo concreto. Pode ficar tranquilo, estou bem.
Depois disso virou um copo de cheio de caipirinha e voltou para o seu mundo, deixando bem claro que eu não era bem vindo. Fiquei pensando que bebida em excesso, solidão e mar podem se tornar um coquetel depressivo perigoso. Por mais que eu tentasse, ela se mostrava indiferente a qualquer contato, demonstrando muito mais interesse em seu livro, seu choro e sua bebida. Tomei coragem e disse:
- Olha, não sei por que motivo você está chorando, mas queria dizer que você é muito bonita para ficar desse jeito. Você tem juventude e o mundo cheio de possibilidades pela frente...
- Eu sei, disse ela. Mas nesse momento nada me soa aprazível...
Ela não disse mais nada por alguns minutos, mas acho que a deixei constrangida de continuar chorando. Quando tirou os óculos estava com o rosto inchado, mas as lágrimas tinham cessado. Comecei a lhe falar sobre minha filha e emplacamos uma conversa deliciosa. Incrível a capacidade de superação dos jovens. O choro e a alegria coexistem de forma surpreendente! Eu levaria dias para me recuperar se tivesse tido uma crise desse porte, e ela, em menos de cinco minutos havia me contado de todos os seus planos para o futuro, o nome dos filhos que teria e os seus ideais de felicidade. Já passavam das sete da noite quando ela disse que tinha bebido muito e precisava dormir. Eu quis acompanhá-la até o seu hotel, mas ela não permitiu, me avisou que sabia o caminho e estava bem. Convidei-a para jantar e depois de refletir um pouco ela recusou. Perguntei se poderíamos nos encontrar no dia seguinte, mas ela recusou prontamente.
- Amanhã eu estarei bem melhor, não precisarei de você e nem de ninguém. Tem coisas que são significativas por si só, não exigem continuidade. Adorei conhecê-lo...
Fiquei surpreso com a resposta e me despedi sem saber bem o que dizer. No dia seguinte lhe procurei na praia e ela estava lá, me cumprimentou com total indiferença e voltou para sua leitura. Nem sombras da moça frágil e desolada da tarde anterior. Nesse momento tudo fez sentido e só então eu entendi por que ela sofria tanto.

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